No 177 (2018)
Nota Editorial
O conselho editorial da Revista de História do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, a partir do volume 176, aderiu ao sistema ahead of print – publicação contínua. Consciente das implicações que essa nova modalidade de publicação traz consigo – certamente mais expedita do que a edição seriada (ou seja: 2 ou 3 volumes anuais) – ela representa um desafio por romper com o perfil editorial da Revista, que completa 69 anos de publicação regular em 2019. Se por um lado o ahead of print acelera o tempo de tramitação dos artigos, atendendo à demanda dos autores-pesquisadores; por outro, essa nova modalidade não permite ver de imediato a articulação entre os artigos uma vez que os dossiês temáticos são formados a posteriori ao final do ano letivo, quando do fechamento do volume.
Independentemente do novo formato, nosso desafio editorial continua sendo o de representar o “momento” historiográfico brasileiro contemporâneo, atendendo às exigências de qualidade, quer no âmbito da produção de conhecimento histórico em nível universitário, quer no aspecto de editoração dos textos. O fundamental é que a Revista de História não seja apenas um mero repositório de artigos científicos, modelados e orientados pelas métricas algorítmicas, definidos pelos sistemas atuais de aferição de produtividade científica.
Os 31 artigos da edição do ano de 2018 são de fato representativos desses dilemas e de outras inquietações da historiografia contemporânea. Abrimos o volume com um conjunto de estudos que analisam com rigor a coesão discursiva da República das Letras no contexto colonial luso-brasileiro, onde eruditos, crônicas religiosas, memórias administrativas se entrecruzam de diferentes modos. O segundo conjunto de artigos trata dos impactos do tráfico negreiro e do comércio intercontinental sob diferentes ângulos de análise, incorporando novas perspectivas que transcendem as abordagens nacionalizantes da divisão internacional do trabalho, na era das revoluções constitucionais e industrial. Na sequência, apresentamos ensaios que aprofundam os significados e as reações populares à imposição da cultura política, deflagrados pelo ordenamento jurídico liberal oitocentista, no Brasil e na América hispânica. O problema da contravenção, punição e produção da criminalidade foi também objeto de análise em três tempos e períodos históricos: colônia, monarquia e republica. A expressão antropológica do processo de incorporação dos imigrantes portugueses e alemães à sociedade brasileira no Pós Abolição e no Pós Segunda Guerra Mundial compõem outro destaque no volume 177.
Uma sequência de artigos lida com temas da máxima atualidade para os dias que correm. Entre eles, dois aprofundam as agudas contradições entre o processo de institucionalização da ciência brasileira mediado pelas políticas estatais e pelos grupos de interesse econômico. A seguir, um segmento substantivo de pesquisas aborda de maneira inédita a imbricação entre ditadura, repressão política e intelectuais no século XX em diferentes países: Brasil, Paraguai, Espanha e Gana. Nessa edição ainda temos três artigos que problematizam as fontes visuais e as controvérsias interpretativas no que tange ao uso das geotecnologias na reconstrução do passado histórico. Finalmente, destacamos a importância dos artigos que fecham o volume, seja pelo grau de especialização que essas pesquisas requerem, seja pelo empenho no descentramento geográfico da produção historiográfica sobre a Antiguidade em nosso país.
Boa Leitura!