Fome também é o que se come: as metáforas nos discursos do MST como construtoras de polêmica argumentativa sobre alimentos ultraprocessados
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2236-4242.v37i1p25-46Palavras-chave:
Metáforas situadas, Metáforas distribuídas, Alimentação, Agronegócio, SubnutriçãoResumo
Este artigo objetiva explorar a conexão entre metáforas e a construção de polêmica argumentativa, revelando de que maneira uma concepção de metáfora dimensionada pelos discursos, para além de mera figura de linguagem ou de pensamento, contribui para a compreensão de dissensos. Para isto, parte-se de um corpus composto por publicações no portal do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) sobre alimentos ultraprocessados (Nupens-USP), entre 2020 e 2022, analisado sob uma perspectiva cognitivo-discursiva (Vereza, 2007, 2017; Gonçalves-Segundo, 2020) entrelaçada à argumentação polêmica (Amossy, 2017). Através da observação das metáforas e o papel por estas desempenhado, foi possível identificar o uso de metáforas situadas e distribuídas operando de maneira dialógica, e perspectivando um Terceiro alheio tanto ao Proponente (MST) quanto ao Oponente, para manutenção do dissenso entre a produção alimentícia industrial, ou atrelada ao agronegócio, e a produção de alimentos in natura, ou minimamente processados, por parte do MST.
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