Privatização da velhice: sofrimento, adoecimento e violência na relação entre cuidadores e idosos
DOI:
https://doi.org/10.1590/S0104-12902021200928Palavras-chave:
Idoso, Cuidadores, Saúde do idoso, Violência, Violência DomésticaResumo
Este artigo aborda o impacto da “privatização da velhice” sobre a qualidade do cuidado e a vida de idosos e familiares-cuidadores pelo cruzamento de três procedimentos: estudo dos dados de prontuários dos idosos atendidos entre 2009 e 2017 no Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Família e Indivíduos (PAEFI) de um município de São Paulo; estudo dos resultados de instrumentos de verificação de indícios de violência; e análise qualitativa de entrevistas com idosos e cuidadores. A discussão introduz uma reflexão original da “privatização da velhice”, considerando não somente a tendência geral à desmontagem dos sistemas de proteção social e ao estabelecimento de um modelo familista de cuidado ao idoso, mas igualmente os efeitos do encapsulamento da esfera doméstica como vida privada, da progressão da nuclearização das políticas familiares, da crescente pregnância de modelos neoliberais de sociabilidade e subjetivação. Esses processos são abordados levando em conta as dinâmicas entrelaçadas das desigualdades sociais e das políticas familiares de cuidado. Os resultados permitem captar efeitos patogênicos e violentogênicos desses processos, como corroboram dados sobre indícios (84%) e risco (62,1%) de violência e frequência de problemas de saúde (80%) e transtorno mental comum (55,2%) entre cuidadores.
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