Livro do desassossego, de Fernando Pessoa, e Mon coeur mis à nu, de Charles Baudelaire, aproximações e afastamentos
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https://doi.org/10.11606/issn.2596-2477.i31p73-82Palavras-chave:
Mon coeur mis à nu, Livro do desassossego, inacabamento, incompletude, rascunho.Resumo
Partindo das ideias de inacabamento e incompletude, são feitas aproximações entre Mon cœur mis à nu, de Charles Baudelaire, e o Livro do desassossego, de Fernando Pessoa. Ambos os livros (se assim podemos nomeá-los) são, na verdade, projetos de obra: nem Baudelaire nem Pessoa chegaram a dar um contorno de acabamento a seus respectivos projetos. O que lemos hoje sob o título Mon cœur mis à nu e Livro do desassossego são conjuntos de notas, planos de trabalho, fragmentos de textos por vir, passagens mais ou menos concluídas. Se é possível uma construção de aproximações (e a história dos manuscritos de ambos os textos o comprova), também é possível, e mesmo necessário, identificar e esclarecer pontos de afastamento, na tentativa de delinear elementos de comunhão e de especificidade que possam existir entre essas duas escrituras tão (des)semelhantes. Como conclusão, propomos olhar para esse tipo de escritura não a partir de categorias estanques (texto ou não texto; obra ou não obra), mas exatamente no intervalo, na latência, na dobra: Mon cœur mis à nu e o Livro do desassossego são e não são texto “concluído”; são projeto de texto, mas também texto em processo; movimento de pura abertura, mas também necessário apelo ao contingenciamento.
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