Encenações da escrita nos textos de Adília Lopes
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2236-4242.v32i2p127-144Palavras-chave:
Escrita, Adília Lopes, Jan Mukarovsky, Função estética, EstéticaResumo
Nos poemas e nas narrativas-fragmentos de Adília Lopes trata-se de um intenso convívio com a tessitura da morte e de um significativo deslocamento de sua representação do domínio consagrado pela tradição – o das flores, dos ossos e das conchas – para o âmbito dos materiais da escrita. E é justamente nesse deslocamento, que distancia a encenação da relação entre escrita e desejo do contexto da natureza, que consiste a singularidade dos textos da poeta portuguesa nos dias de hoje. Com efeito, a perturbadora confusão entre as posturas estética, prática e mágico-religiosa, delimitadas no âmbito do Círculo Linguístico de Praga por Jan Mukarovski, vê-se encenada em muitos dos textos de Adília Lopes que relatam fatos aparentemente corriqueiros, apontando para os perigos da pseudo-racionalidade totalitária. De fato, a renúncia ao caráter arbitrário do signo, típica da função mágica, é característica também de certos estados de um delírio psicótico que procura gratificações brutas para impulsos agressivos. Dessa forma, a denúncia do considerável enfraquecimento da eficácia da função estética em prol da função mágica, característica da superstição, torna-se o foco de sua exigente poética, na qual a lógica da metonímia e a referencialidade negativa se revelam instrumentos necessários da resistência subjetiva.
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