Exames nacionais: efeitos sobre escolas, alunos e famílias
DOI:
https://doi.org/10.1590/S1678-4634202450273908Palabras clave:
Exames nacionais, Resultados escolares, Rankings, Explicações, Apoios pedagógicosResumen
Ao longo dos últimos tempos, foi-se instalando entre nós uma espécie de império da performance que move decisores políticos, gestores escolares, professores e as próprias famílias. O sucesso do modelo parece assentar no exame apresentado como expoente máximo da gramática escolar, aquele que garante a objetividade e o rigor, nas palavras dos seus defensores. Este trabalho retoma a discussão de alguns dados recolhidos no âmbito de uma tese de doutoramento (Gouveia, 2017 ) que procurou conhecer as estratégias desenvolvidas em Portugal no seio das escolas (também impulsionadas pelas famílias) para aprimorarem as suas possibilidades de sucesso num contexto marcado pela agenda da avaliação em várias escalas (local, nacional e internacional). Dessa forma, mobilizamos múltiplos pontos de vista e diferentes perspetivas de análise dos principais intervenientes no nosso estudo de casos múltiplos: os alunos (Estudo 1 – inquéritos por questionário, n=691); os diretores dos agrupamentos de escolas 6 /colégios (Estudo 2 – entrevistas, n=10); e os diretores dos centros de explicações 7 (Estudo 3 – entrevistas, n=4). Os principais resultados obtidos permitiram verificar que: i) os exames nacionais ocupam um lugar central na preocupação de escolas, alunos e suas famílias; ii) alimentam um mercado paralelo de explicações que leva muitas vezes à não frequência pelos alunos a apoios pedagógicos oferecidos pelas escolas; iii) a existência de exames nacionais tem influência no modo de organização do trabalho pedagógico e na ação dos professores.
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