O taiko e os nipo-brasileiros: sons de uma identidade hifenizada
DOI:
https://doi.org/10.11606/rm.v24i1.225295Palavras-chave:
Taiko, Música nipo-brasileira, Nikkei, Comunidades musicaisResumo
Os grupos de taiko, conjuntos percussivos formados pelos milenares tambores japoneses, se popularizaram no Brasil a partir da década de 2000 e se estabeleceram em diversas comunidades nipo-brasileiras, estimulando a formação de grupos musicais que compartilham signos e vivências associados à ideia de japonesidade. Este artigo tem como objetivo investigar a formação de uma identidade hifenizada a partir da prática do taiko, observando alguns de seus desdobramentos e impactos sociais. A investigação se baseia em uma pesquisa bibliográfica e na construção de uma etnografia com observação participante abrangente, baseada na vivência de três anos (2020-2023) de seu autor junto ao grupo Kawasuji Seiryu Daiko de Atibaia, no interior de São Paulo, que abriga uma relevante comunidade de imigrantes e descendentes de japoneses, e de entrevistas realizadas com tocadores. A partir dos relatos experienciados e colhidos em campo, foi possível levantar hipóteses acerca da construção de uma localidade e identidade a partir da prática do taiko através do engajamento de seus participantes e do compartilhamento de aspectos culturais e vivências mútuas. Assim, é possível advogar a favor do taiko como fator fundamental na formação de uma identidade hifenizada, o nipo-brasileiro, que possui laços de pertencimento em constante fluxo, se relacionando, simultaneamente, com duas nações. Além disso, são levantadas questões acerca da formação de um indivíduo nipo-brasileiro sem ligações hereditárias com o arquipélago japonês, discutindo o processo de apropriação através da prática e de escolhas individuais.
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