Sobre a abundância de coisas, palavras e músicas
DOI:
https://doi.org/10.11606/rm.v23i1.209508Palavras-chave:
Joachim Burmeister, Erasmo de Roterdã, Poética Musical, Retórica MusicalResumo
Em 1606, o músico alemão Joachim Burmeister publicou em Rostock sua poética musical com o objetivo de sistematizar o processo criativo musical, constituir material didático para a escola latina onde atuava, difundir esse conhecimento e preservar as práticas musicais vigentes. Esse tratado é reconhecido pela originalidade da sistematização que propõe e que iniciou uma tradição especificamente luterana de escrita, leitura e interpretação musical, baseada na estreita relação entre poesia e música. Para a formulação dessa sistematização, Burmeister tomou como ponto de partida a ideia de que o espaço da elaboração musical seria aquele da compositio elocutiva das palavras e que essa mesma elaboração devia ser proporcional ao estilo das palavras, de maneira que a música resultante contribuísse para torná-las mais persuasivas. Nesses termos, podemos compreender que os diferentes estilos musicais se caracterizariam, em parte, por diferentes estilos poéticos e, em parte, pelas formas particulares de elaboração musical deles, codificadas retoricamente pela tratadística existente. Em seu Musica Poetica, Burmeister categorizou uma série de artifícios e técnicas musicais baseando-se nas referências mais próximas e comuns de seu tempo, dentre as quais destaco o De utraque verborum ac rerum copia (1512) de Erasmo de Roterdã. Assim como Erasmo reformulou e atualizou em seu tratado os preceitos relativos à abundância de pensamentos e palavras, Burmeister reformulou e atualizou, para o contexto luterano, os preceitos relativos à abundância de artifícios musicais. Neste artigo, proponho analisar as relações entre o tratado de Burmeister e o de Erasmo, investigar o caminho das ideias que os unem, suas aproximações e distanciamentos, e conhecer os fundamentos daquilo que se convencionou chamar desde o século XVII de retórica musical.
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