A “Babel invertida” da Orquestra Popular de Câmara: projeto estético e processo criativo na Música Popular Instrumental Brasileira (MPIB)
DOI:
https://doi.org/10.11606/rm.v23i1.206593Palavras-chave:
Música Instrumental Popular Brasileira (MPIB), Nacionalismo Musical, Estética da Sonoridade, Tonal x ModalResumo
A Orquestra Popular de Câmara foi um coletivo criado em São Paulo em 1997, por iniciativa de Benjamim Taubkin, com o objetivo estético de promover a confluência entre musicalidades “regionais” e “cosmopolitas”, “tradicionais” e “modernas”, “rurais” e “urbanas” – em suma, entre as polaridades ou “linhas de força” (TRAVASSOS, 2000, p. 7) em torno das quais giram as discussões sobre a identidade na música brasileira. Entendendo tais polaridades não como categorias fixas mas como modulações de características dispostas em um contínuo, procuramos neste artigo identificar, a partir da análise do fonograma “Suíte pra pular da cama (e ver o Brasil)” (1998), como esse projeto estético de integração “babélica” de musicares se expressa, concretamente, na música da Orquestra, e quais procedimentos e sonoridades são usados, aqui, para evocar esses diferentes “mundos”. Abordando os conceitos da “estética da sonoridade” de Didier Guigue conforme aplicados por Sérgio Molina à música popular, descrevemos a estrutura da “Suíte...” como uma justaposição de “momentos-estado” – seções de harmonia estática movidas pela interação improvisada – e “momentos-processo” – seções predeterminadas, com temas definidos e desenvolvimento harmônico –, representando um entrelaçamento entre a modernidade “tonal” e a tradição “modal”, conforme a distinção proposta por José Miguel Wisnik.
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