Horticultura ornamental no século XIX: uma linguagem simbólica de distinção social no contexto do imperialismo europeu
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2316-9141.rh.2025.225637Palavras-chave:
distinção social, horticultura ornamental, imperialismo, século XIX, simbolismoResumo
Este artigo tem o propósito de elucidar a maneira pela qual a horticultura ornamental ganhou centralidade no século XIX, no interior da nobreza e da burguesia abastada, em países europeus que buscavam expandir seus impérios no ultramar, atuando como uma poderosa linguagem simbólica de distinção social. A aquisição de plantas consideradas raras e exóticas, vindas principalmente dos trópicos, unidas ao ideário do romantismo, abriu espaço para o enraizamento de gostos, comportamentos e sensibilidades, a princípio, junto aos grupos da elite que despendiam verdadeiras fortunas na compra e no cultivo de espécies que passavam a figurar em coleções, muitas delas, mantidas em estufas aquecidas em propriedades situadas no campo ou na cidade. Nesse cenário, horticultores, em particular, ingleses, franceses e belgas tiveram um papel de destaque, isto porque, além de financiarem coletores de plantas em expedições a regiões tropicais no ultramar e tornarem-se proprietários de estabelecimentos comerciais bem-sucedidos, editavam e publicavam revistas especializadas que apontavam preferências e celebravam espécies que, desse modo, eram vendidas como bens altamente valorizados.
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