“Vovó não quer casca de coco no terreiro para não lembrar do tempo do cativeiro”. Memória e mediação nos terreiros de umbanda

Autores

  • Claudia Antonangeli Università Ca’ Foscari

DOI:

https://doi.org/10.14201/reb20229206174

Palavras-chave:

Escravidão, memória, possessão, mediação

Resumo

As reflexões apresentadas neste artigo propõem uma leitura etnográfica do culto afro-brasileiro da umbanda, a partir de sua vertente política. Durante a cerimônia religiosa, alguns adeptos incorporam entidades espirituais que remetem a figuras sociais típicas da história brasileira, por exemplo, caboclos e pretos velhos, que remetem ao extermínio de indígenas e à escravização de africanos. O objetivo do texto é mostrar como, através do momento ritual da incorporação, o culto da umbanda funciona enquanto estratégia de memória, encenando aspectos do passado colonial e escravocrata do Brasil. Aliás, o retorno destes espíritos nos corpos dos médiuns vincula esses corpos à matriz africana, independentemente da cor da pele, criando assim narrativas novas que permitem superar uma concepção estigmatizante e racista da pessoa. Então, o campo da religiosidade pode ser interpretado como uma arena de negociação identitária, na qual as entidades espirituais aparecem no papel de mediadores.

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Biografia do Autor

  • Claudia Antonangeli, Università Ca’ Foscari

    Mestre em Antropologia cultural, Etnologia e Etnolinguística pela Universidade Ca’ Foscari (Itália).

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Publicado

2023-09-18

Edição

Seção

Seção Geral

Como Citar

“Vovó não quer casca de coco no terreiro para não lembrar do tempo do cativeiro”. Memória e mediação nos terreiros de umbanda. (2023). Revista De Estudios Brasileños, 9(20), 61-74. https://doi.org/10.14201/reb20229206174