Episiotomia: a caracterização do estado de anomia dos direitos sexuais e humanos no momento do parto
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2316-9044.rdisan.2023.178059Palavras-chave:
Anomia, Episiotomia, Violência ObstétricaResumo
O objetivo do presente artigo foi analisar o caráter tortuoso da episiotomia rotineira, diante de um contexto de anomia que parte da discrepância entre as disposições normativas existentes e a cultura sexual da sociedade. Utilizou-se o método indutivo na abordagem da configuração da episiotomia como um tratamento desumano e degradante, equiparando-a à tortura. O método de procedimento foi o monográfico, com a utilização de pesquisa bibliográfica e legislativa. Como resultados, obteve-se a constatação de que a episiotomia situa-se em um contexto de anomia, pois instrumentos normativos desaconselham sua prática por se tratar de uma lesão no períneo que fere direitos sexuais, e sua realização irrestrita constitui violação do Código de Ética Médica. Contemplou-se, ainda, que a episiotomia é uma espécie de tortura, pois está inserida em um contexto de maus-tratos, ofensa à integridade corporal, violação da disposição livre do corpo e do direito à informação para a tomada de decisões autônomas e esclarecidas e ao consentimento sem coerção, além dos direitos sexuais e humanos, encerrando um tratamento discriminatório, aviltante e desrespeitoso aos direitos sexuais e humanos das mulheres.
Downloads
Referências
ALVES, Cândice Lisbôa. A mulher atrás do espelho: em busca de uma visibilidade ainda não alcançada. In: ALVES, Cândice Lisbôa (Org.). Vulnerabilidades e insvisibilidades: desafios contemporâneos para a concretização dos direitos humanos. Belo Horizonte: Arraes Editores, 2015.
AZAMBUJA, Mariana Porto Ruwef de; NOGUEIRA, Conceição. Introdução à violência contra as mulheres como um problema de direitos humanos e de saúde pública. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 17, n. 3, 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902008000300011. Acesso em: 29 nov. 2021. https://doi.org/10.1590/S0104-12902008000300011.
BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina, 11. ed. Trad. Maria Helena Kihmer. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012.
BRASIL. Decreto n. 1.973, de 1º de agosto de 1996. Promulga a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, concluída em Belém do Pará, em 9 de junho de 1994. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1996/d1973.htm#:~:text=DECRETO%20N%C2%BA%201.973%2C%20DE%201%C2%BA,9%20de%20junho%20de%201994. Acesso em: 11 nov. 2023.
BRASIL. Decreto n. 4.388, de 25 de setembro de 2002. Promulga o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/d4388.htm. Acesso em: 11 nov. 2023.
BRASIL. Ministério da Saúde. Humanização do parto e do nascimento. Ministério da Saúde. Universidade Estadual do Ceará. Brasília-DF: Ministério da Saúde, 2014. (Cadernos HumanizaSUS; v. 4). Disponível em: https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/wp-content/uploads/2018/01/caderno_humanizasus_v4_humanizacao_parto-L.pdf. .
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. 1.820, de 18 de agosto de 2009. Dispõe sobre os direitos e deveres dos usuários da saúde, 2009. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2009/prt1820_13_08_2009.html. Acesso em: 26 out. 2021. .
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. 569, de 1º de junho de 2000. Instituir o Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN), no âmbito do Sistema Único de Saúde. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2000/prt0569_01_06_2000_rep.html. Acesso em 10 jun. 2021.
BRASIL. Ministério da Saúde. Programa humanização do parto: humanização no pré-natal e no nascimento. Brasília-DF, 2002. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/parto.pdf. Acesso em: 10 out. 2021. (BRASIL, 2002b)
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias em Saúde. Diretrizes nacionais de assistência ao parto normal: versão resumida [recurso eletrônico]. Brasília-DF: Ministério da Saúde, 2017. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_nacionais_assistencia_parto_normal.pdf. Acesso em: 10 nov. 2021.
CÁRCOVA, Carlos María. A opacidade do direito. São Paulo: LTr, 1998.
CHACHAM, Alessandra Sampaio; MAIA, Mônica Bara. Corpo e sexualidade da mulher brasileira. In: VENTURI, Gustavo; RECAMÁN, Marisol; OLIVEIRA, Suely (Orgs.). A mulher brasileira nos espaços público e privado. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2004.
CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA (CFM). Código de ética médica: Resolução CFM n. 1.931, de 17 de setembro de 2009 (versão de bolso). Brasília-DF: Conselho Federal de Medicina, 2010. Disponível em: https://portal.cfm.org.br/images/stories/biblioteca/codigo%20de%20etica%20medica.pdf. Acesso em: 26 out. 2021. )
CUNHA, Camila Carvalho Albuquerque. Violência obstétrica: uma análise sob o prisma dos direitos fundamentais. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito da Universidade de Brasília. Brasília-DF, 2015. Disponível em: http://bdm.unb.br/bitstream/10483/10818/1/2015_CamilaCarvalhoAlbuquerqueCunha.pdf. Acesso em: 10 nov. 2021.
DIAS, Renato Duro et al. Violência obstétrica e o paradigma do discurso hegemônico na área da saúde. Revista de Direito Sanitário, São Paulo, v. 21, p. e0011, 2021. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/rdisan/article/view/159259. Acesso em: 28 nov. 2021. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9044.rdisan.2021.159259.
DINIZ, Carmen Simone Grilo. Campanha pela abolição da episiotomia de rotina. [2003?]. Disponível em: https://www.amigasdoparto.com.br/episiotomia3.html. Acesso em: 28 nov. 2021.
DINIZ, Carmen Simone Grilo. Gênero, saúde materna e o paradoxo perinatal. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano, São Paulo, v. 19, n. 2, p. 313-326, 2009. Disponível em: https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/wp-content/uploads/2018/05/genero_saude_materna.pdf. Acesso em: 20 nov. 2021. https://doi.org/10.7322/jhgd.19921.
FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (FIOCRUZ). Nascer no Brasil: Inquérito Nacional sobre Parto e Nascimento. Disponível em: http://www5.ensp.fiocruz.br/biblioteca/dados/txt_943835885.pdf. Acesso em 08 out. 2021.
FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA (UNICEF). Guia dos Direitos da Gestante e do Bebê. São Paulo: Globo, 2011. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/media/2351/file/Guia_dos_Direitos_da_Gestante_e_do_Bebe.pdf. Acesso em: 20 jun. 2021. (UNICEF, 2011)
GRIBOSKI, Rejane Antonello; GUILHEM, Dirce. Mulheres e profissionais de saúde: o imaginário cultural da humanização. Texto & Contexto Enfermagem, Florianópolis, v. 15, n. 1, p. 107-114 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/tce/v15n1/a13v15n1.pdf. Acesso em: 20 nov. 2021. https://doi.org/10.1590/S0104-07072006000100013. (GRIBOSKI; GUILHEM, 2006)
HAMMARSTRON, Fátima Fagundes Barasuol; NAZÁRIO, Larissa. Os direitos da parturiente nos casos de violência obstétrica. Apresentado no XVII Seminário Internacional de Educação no Mercosul, 2015. Disponível em: https://home.unicruz.edu.br/mercosul/pagina/anais/2015/1%20-%20ARTIGOS/OS%20DIREITOS%20DA%20PARTURIENTE%20NOS%20CASOS%20DE%20VIOLENCIA%20OBSTETRICA.PDF. Acesso em 19 nov. 2021. (HAMMARSTRON; NAZÁRIO, 2015)
JARDIM, Danúbia Mariane Barbosa; MODENA, Celina Maria. A violência obstétrica no cotidiano assistencial e suas características. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 26, p. e3069, 2019. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/rlae/article/view/156599. Acesso em: 30 nov. 2021. https://doi.org/10.1590/1518-8345.2450.3069. (JARDIM; MODENA, 2019)
MARIANI, Adriana Cristina; NASCIMENTO NETO, José Osório do. Violência obstétrica como violência de gênero e violência institucionalizada: breves considerações a partir dos direitos humanos e do respeito às mulheres. Anais do EVINCI – UniBrasil, v. 2, n. 2, 2016. Disponível em: https://portaldeperiodicos.unibrasil.com.br/index.php/anaisevinci/article/view/1107. Acesso em 02 nov. 2021. (MARIANI; NASCIMENTO NETO, 2016)
MARTINHO, Jorge Eduardo de Souza. A responsabilidade civil médica diante do dano iatrogênico: razoabilidade na aferição do possível. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 21, n. 4583, 18 jan. 2016. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/45623. Acesso em: 3 dez. 2021. (MARTINHO, 2016)
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Declaração sobre a Eliminação de Violência contra as Mulheres, 1993. Disponível em: https://www.onumulheres.org.br/wp-content/uploads/2013/03/declaracao_viena.pdf. Acesso em: 11 nov. 2023. (ONU, 1993)
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Declaração Universal dos Direitos do Homem, 1948. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos. Acesso em: 11 nov. 2023. (ONU, 1948)
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Relatório da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento: Plataforma de Cairo, 1994. Disponível em: http://www.unfpa.org.br/Arquivos/relatorio-cairo.pdf. Acesso em 11 out. 2021. (ONU, 1994)
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E CULTURA (UNESCO). Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos, 2005. Disponível em: http://unesdoc.unesco.org/images/0014/001461/146180por.pdf. Acesso em: 26 out. 2021. (UNESCO, 2005)
PÉREZ D’GREGORIO, Rogelio. Obstetric violence: a new legal term introduced in Venezuela. International Journal of Gynecology and Obstetrics, v. 111, p. 201-202, 2010. Disponível em: http://www.redehumanizasus.net/sites/default/files/figo_-_violencia_obstetrica_-_legislacao_na_venezuela.pdf. Acesso em: 25 nov. 2021. (PÉREZ D’GREGORIO, 2010)
PREVENÇÃO e eliminação de abusos, desrespeito e maus-tratos durante o parto em instituições de saúde. Organização Mundial da Saúde, 2014. Disponível em: https://iris.who.int/bitstream/handle/10665/134588/WHO_RHR_14.23_por.pdf. Acesso em: 11 nov. 2023. (PREVENÇÃO..., 2014)
PROGIANTI, Jane Márcia; ARAÚJO, Luciene Marques de; MOUTA, Ricardo José de Oliveira. Repercussões da episiotomia sobre a sexualidade. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, v. 12, n. 1, p. 45-49, 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ean/v12n1/v12n1a07.pdf. Acesso em 11 jul. 2021. https://doi.org/10.1590/S1414-81452008000100007. (PROGIANTI; ARAÚJO; MOUTA, 2008)
PULHEZ, Mariana Marques. A violência obstétrica e as disputas em torno dos direitos sexuais e reprodutivos. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL FAZENDO GÊNERO 10 (Anais Eletrônicos). Florianópolis, 2013. Disponível em: http://www.fg2013.wwc2017.eventos.dype.com.br/resources/anais/20/1372972128_ARQUIVO_PULHEZ_MarianaMarques_fazendogenero10_ST69.pdf. Acesso em: 11 jul. 2021. (PULHEZ, 2013)
SAFFIOTI, Heleieth. Gênero e patriarcado: violência contra mulheres. In: VENTURI, Gustavo; RECAMÁN, Marisol; OLIVEIRA, Suely (Orgs.). A mulher brasileira nos espaços público e privado. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2004. (SAFFIOTI, 2004)
SILVA, Delmo Mattos da; SERRA, Maiane Cibele de Mesquita. Violência obstétrica: uma análise sob o prisma da autonomia, beneficência e dignidade da pessoa humana. Revista Brasileira de Direitos Humanos e Fundamentais, v. 3, n. 2, p. 42-65, jul/dez. 2017. Disponível em: http://www.indexlaw.org/index.php/garantiasfundamentais/article/download/2586/pdf. Acesso em: 05 dez. 2021. https://doi.org/10.26668/IndexLawJournals/2526-0111/2017.v3i2.2586. (SILVA; SERRA, 2017)
TOMASSO, Giselle et al. ¿Debemos seguir haciendo la episiotomía en forma rutinaria? Revista de Obstetricia y Ginecología de Venezuela, v. 62, n. 2, p. 115-121, 2002. Disponível em: https://www.amigasdoparto.com.br/episiotomia2.html. Acesso em 14 nov. 2021. (TOMASSO et al., 2002)
VELHO, Manuela Beatriz; SANTOS, Evanguelia Kotzias Atherino dos; COLLAÇO, Vânia Sorgatto. Parto normal e cesárea: representações sociais de mulheres que os vivenciaram. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 67, n. 2, p. 282-289, mar./abr. 2014. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reben/v67n2/0034-7167-reben-67-02-0282.pdf. Acesso em: 12 ago. 2021. (VELHO; SANTOS; COLLAÇO, 2014)
VENEZUELA. Ley orgánica sobre el derecho de las mujeres a una vida libre de violencia. 2007. Disponível em: https://venezuela.unfpa.org/sites/default/files/pub-pdf/Ley_mujer%20%281%29_0.pdf. Acesso em: 25 nov. 2021. (VENEZUELA, 2007)
VENTURA, Miriam. Direitos reprodutivos no Brasil. 3. ed. Brasília-DF: Fundo de População das Nações Unidas, 2009. (VENTURA, 2009)
VIOLÊNCIA Obstétrica "Parirás com dor". Dossiê elaborado pela Rede Parto do Princípio para a CPMI da Violência Contra as Mulheres. Colaboradoras: Cariny Ciello et al. 2012. Disponível em: http://www.senado.gov.br/comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20367.pdf. Acesso em: 10 nov. 2021. (VIOLÊNCIA..., 2012)
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). WHO recommendations Intrapartum care for a positive childbirth experience, 2018. Disponível em: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/260178/1/9789241550215-eng.pdf?ua=1. Acesso em: 03 jul. 2021. (WHO, 2018)
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 Revista de Direito Sanitário
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
A publicação adota a licença Creative Commons “Atribuição-4.0 Internacional (CC BY 4.0). Esta licença permite: "compartilhar — copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato; adaptar — remixar, transformar, e criar a partir do material para qualquer fim, mesmo que comercial." Mais informações sobre a licença podem ser encontradas em: https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.pt
Ao submeter trabalhos para publicação na Revista de Direito Sanitário, os autores aceitam os termos desta licença e concordam em ceder os direitos autorais para a publicação.
Os autores também concordam com o compromisso da publicação em oferecer acesso aberto a todo o seu conteúdo.