A “política” entre o desejo e a proibição nos diários de Maria Isabel Silveira (1880-1965)
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2596-2477.i53p%25pPalavras-chave:
Diários, Memórias, Teoria feminista, Arquivo feministaResumo
O presente artigo analisa os diários de Maria Isabel Silveira (1880-1965) pelo viés das teorias feministas que contribuem para identificar, no conjunto formado pelos 62 diários da memorialista, as estruturas de poder que engendram uma mulher de sua classe. Casada com o escritor e político Valdomiro Silveira (1873-1941), cujo acervo pessoal foi doado ao Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB-USP), Maria Isabel, com rigor e disciplina, escreveu sobre si e, consequentemente, sobre sua época. A voz que ecoa das páginas é comedida, controlada e ilumina a posição social, a ideologia dominante e os papeis esperados da mulher que emerge na virada do século XIX para o XX, em cidades como São Paulo e Santos. Observa-se, na escrita diarística, uma performance autoral como estratégia representacional. A utilização de códigos quando quer registrar e simultaneamente esconder se torna um recurso. Na linguagem cifrada de Maria Isabel encontra-se o termo “política” utilizado para designar o período menstrual. A associação do termo com o estado fisiológico é um convite para analisar os diários como arquivo do feminismo. O conceito de performatividade de gênero, de Judith Butler, é utilizado para revelar a linguagem como “ato constitutivo da experiência subjetiva.”
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