A prática feminina de si: identificações da mulher encarcerada em cartas
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2596-2477.i50p139-159Palavras-chave:
Identificações, Mulher, Prisão, Escrita de siResumo
O presente trabalho busca identificar a influência do meio prisional na produção de identificações das mulheres privadas de liberdade, utilizando a escrita de si (FOUCAULT, 1992; MCLAREN, 2016) como arcabouço teórico principal. Para tanto, analisamos cartas de mulheres encarceradas em uma unidade destinada a mulheres em fase final de cumprimento de pena da região de Curitiba/PR e fizemos um mapeamento das manifestações do feminino no cárcere. A análise sustenta-se nas teorias sobre escrita de si e estudos sobre identidade. O corpus se constitui de cartas de quatro mulheres privadas de liberdade, coletado durante oficinas de leitura realizadas no período de 07 a 23/11/2022. A análise das produções demonstrou que o cárcere provoca uma reconfiguração nas identificações dessas mulheres. A ação de contar-se é materializada nas missivas e apresenta o sujeito como um ser social, que vive em um contexto que promove identificações, ora para suportar a dor da ausência daqueles que ama, ora para ressignificar experiências pretéritas.
Downloads
Referências
AGÊNCIA SENADO, Palestrantes apontam dificuldades enfrentadas por mulheres encarceradas. Senado notícias, 2019. Disponível em: < https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2018/11/29/palestrantes-apontam-dificuldades-enfrentadas-por-mulheres-encarceradas>. Acesso em: 10 jan. 2023.
BALASSIANO, Ana Luiza Grillo. Migrantes no Liceu em tempos de guerra: modos de resistência aos (des)lugares. In: SOUZA, Elizeu Clementino de; BALASSIANO, Ana Luiza Grillo; OLIVEIRA, Anne-Marie Milon. Escrita de si, resistência e empoderamento. Curitiba: CRV, 2014.
BAKHTIN, Mikail. The bakhtin reader. london: Pam Morris, 1994.
BARTHES, Roland. A morte do autor. In: O Rumor da Língua. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
BORTONI-RICARDO, Stella Maris. O professor pesquisador: introdução à pesquisa qualitativa. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.
BRASIL. Lei nº 7.209, de 11 de julho de 1984. Altera dispositivos do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal e dá outras providências. Brasília, DF. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art1>. Acesso em 12 jan. 2022.
CARVALHO, Daniela Tiffany Prado de. Nas entrefalhas da linha-vida: experiências de gênero, opressões e liberdade em uma prisão feminina. 2014. Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de Minas Gerais. Disponível em: <http://www.fafich.ufmg.br/pospsicologia/wpcontent/plugins/download-attachments/includes/ download.php?id=1763>. Acesso em 10 jan. 2022.
COSTA, Sergio Roberto. Dicionário de Gêneros Textuais. São Paulo: Autêntica, 2008.
FOUCAULT, Michel. Técnicas de si. In: Ditos e escritos, volume IX: Genealogia da ética, subjetividade e sexualidade. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2014.
FOUCAULT, Michel. A Escrita de si, in: Ditos e escritos, Volume V: ética, sexualidade, política. 3.ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012.
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade: A vontade de saber (Vol. 1). 9ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2014.
FOUCAULT, Michel. A hermenêutica do sujeito. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
FLORES, N. M. P.; SMEHA, L. N.. Mães presas, filhos desamparados: maternidade e relações interpessoais na prisão. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 28, n. Physis, 2018 28(4), 2018.
GOFFMAN, Erving. Manicômios, prisões e conventos. São Paulo: Perspectiva, 2015.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11ª Ed. Rio de Janeiro: D&PA, 2006.
HELPES, Sintia Soares. Vidas em jogo: Um estudo sobre mulheres envolvidas com o tráfico de drogas. São Paulo: IBCCRIM, 2014.
INFOPEN Mulheres – 2ª edição / organização Thandara Santos; colaboração Marlene Inês da Rosa… [et al.]. – Brasília: Ministério da Justiça e Segurança Pública. Departamento Penitenciário Nacional, 2017. Disponível em: <https://www.gov.br/depen/pt-br/servicos/sisdepen/relatorios-e-manuais/relatorios/relatorios-sinteticos/infopenmulheres-junho2017.pdf/view>. Acesso em 11 jan. 2022.
LIMA, G. M. B. et al. Mulheres no cárcere: significados e práticas cotidianas de enfrentamento com ênfase na resiliência. Saúde em Debate, v. 37, n. 98, p. 446-456, 2013.
MACLAREN, Margaret. A. Foucault, feminismo e subjetividade. São Paulo: Intermeios, 2016.
MAFFESOLI. Michel. Tribalismo pós-moderno: Da identidade às identificações. Revista Ciências Sociais Unisinos. v. 43 n. 1 (2007). Disponível em: <https://revistas.unisinos.br/index.php/ciencias_sociais/article/view/5652/2857>. Acesso em 08 maio 2023.
MENA, Fernanda. Brasil passa a Russia e vira 3º país com mais mulheres presas no mundo. Jornal Folha UOL (online). Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2022/10/brasil-passa-a-russia-e-vira-3o-pais-com-mais-mulheres-presas-no-mundo.shtml>. Acesso em: 11 jan. 2022.
ORELLANA, R.C. Foucault y el cuidado de la libertad. Santiago: LOM, 2008.
RAGO, Luzia Margareth. A aventura de contar-se: feminismos, escrita de si e invenções da subjetividade. Campinas: Editora da Unicamp, 2013.
RATTON, J. L., Galvão, C., e Andrade. Crime e Gênero: controvérsias teóricas e empíricas sobre a agência feminina. Curitiba. 2011
RICOEUR, Paul. Temps et récit. Tome I. l’intrigue et le recit historique. Paris: Le Seuil, 1983.
RICHARD, Nely. Intervenções críticas. Arte, cultura, gênero e política. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2002.
ROCHA, André Crabée. A epistolografia em Portugal. Coimbra: Almedina, 1965
RODOLFO, Luciano. A vida às margens da arte: a correspondência e a poesia inéditas de Murilo Mendes a Guilhermino Cesar. Porto Alegre: UFRGS, 2014. 222 f. Tese (Doutorado em Letras) – Programa de Pós-Graduação em Letras, Instituto de Letras, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2014. Disponível em: <http://hdl.handle.net/10183/114424>. Acesso em 19 jan. 2022.
SILVA, Vera Lucia da; SILVEIRA, Juliana da. À margem: escrita de exceção em cartas controladas pelo estado. Maringá, v. 35, n.1, p.171-178. Abril/Junho, 2013.
SOARES, B. M.; ILGENFRITZ, I. Prisioneiras: vida e violência atrás das grades. Rio de Janeiro: Garamond, 2002.
STELLA, C. O impacto do encarceramento materno no desenvolvimento psicossocial dos filhos. Educare. Revista de Educação, v. 4, n. 8, p. 99-111, 2009.
TEIXEIRA, L. C.. Escrita autobiográfica e construção subjetiva. Psicologia USP, v. 14, n. Psicol. USP, 2003 14(1), 2003.
VARELLA, D. Prisioneiras. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.
WACQUANT, L. A aberração carcerária à moda francesa. Dados, v. 47, n. 2, p. 215-232, 2004.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 Thays Carvalho Cesar, Maria de Lourdes Rossi Remenche
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.