Economistas e educação no Banco Mundial: primórdios de uma relação duradoura no Brasil

Autores

  • Hivy Damasio Araújo Mello Doutora pela Universidade Estadual de Campinas

DOI:

https://doi.org/10.11606/extraprensa2024.231947

Palavras-chave:

Banco Mundial, Circulação de ideias, Convergências, Educação no Brasil, Policymakers

Resumo

Resumo: O Banco Mundial (BM) começa a financiar projetos educacionais na América Latina e no Brasil nos anos 1970. Antecediam os financiamentos, missões técnicas e estudos de setores e países. O artigo destaca que, desde cedo, o BM possuía interlocutores privilegiados no Brasil, agentes que, junto dele, disseminam ideias e um modo de olhar o setor educacional brasileiro (e latino-americano) a partir de uma concepção econômica da educação. Na análise de material referente às primeiras missões técnicas, estudos e financiamentos, complementados por entrevistas, chamam a atenção a circulação de ideias, os temas que surgem e o perfil dos interlocutores, o que nos dá pistas dos processos de legitimação e consagração de diagnósticos e recomendações para a educação no país. Algumas dessas ideias ganham centralidade nos anos 1990, auge das convergências entre o BM e o governo brasileiro, com a chegada de um grupo de intelectuais/policymakers ao poder e a implementação de uma reforma gerencial na educação; mas, como o texto explora, a construção dos vínculos é anterior.

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Biografia do Autor

  • Hivy Damasio Araújo Mello, Doutora pela Universidade Estadual de Campinas

    Doutora em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Mestre em Administração pela FGV/EAESP. Graduada em Administração pela UFSC. Realizou seu Pós-doutorado em Sociologia pela Unicamp, com estágio no Departamento de Ciências Sociais e no Laboratoire Institutions et Dynamiques Historiques de l'Économie et de la Société - IDHES, da École Normale Supérieure Paris-Saclay, em Paris, França.

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Publicado

2024-12-21 — Atualizado em 2025-01-22

Versões

Como Citar

Mello, H. D. A. . (2025). Economistas e educação no Banco Mundial: primórdios de uma relação duradoura no Brasil. Revista Extraprensa, 17(2), 249-277. https://doi.org/10.11606/extraprensa2024.231947 (Original work published 2025)