Descolamento institucional: o Ministério Público Federal e a Operação Lava Jato
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1980-4016.esse.2024.216614Palavras-chave:
Semiótica, Atores, Operação Lava Jato, TriagemResumo
O artigo procura lançar luz sobre a constituição do ator Operação Lava Jato (OLJ), investigando em que medida se pode pensar em um ator que se descola de sua instituição de origem, o Ministério Público Federal (MPF), passando a figurar como um agente político relevante. Para tal, partimos dos sentidos postos na primeira denúncia da operação contra o ex-presidente Lula e de dados quantitativos colhidos das 58 denúncias dessa operação, do núcleo de Curitiba, efetuadas entre os anos de 2014 e 2016. Inicialmente, depreendemos a constituição dos atores na petição, identificando as características de cada um. Os elementos postos na peça evidenciam a construção de dois diferentes atores, mesmo que interligados. Concluímos, por meio da análise semiótica, que essa separação ocorre por uma triagem, na qual há no MPF uma euforização dos valores de universo – compondo valores democráticos –, enquanto, na OLJ, há uma euforização dos valores de absoluto – compondo valores aristocráticos, que se caracterizou por um discurso hiperbólico e antipolítica.
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