A missão: uma etnografia da capoeira como instrumento de cooperação internacional brasileira na África lusófona

Resumo

O presente artigo pretende problematizar, através de uma prospecção etnográfica, os limites de uma missão de cooperação internacional brasileira realizada na Guiné Bissau, em que a capoeira surge como instrumento de ação diplomática no contexto da cooperação sul-sul. Esta etnografia incide sobre a missão de validação do projeto intitulado Capoeira e formação educativa para a cidadania na Guiné-Bissau, em que participaram diferentes atores institucionais brasileiros, e seus parceiros guineenses, sob a égide do “retorno de uma prática cultural africana as suas origens”. O artigo tenciona refletir sobre os sentidos atribuídos à missão, para compreender o processo de internacionalização tardia da capoeira no continente africano, o fato de que se fez sob a tutela do estado brasileiro no contexto da governação bolsonarista, em que a cooperação com o sul global se encontrava fragilizada, mas também em que se vive intensamente uma das formas de negacionismo político referentes à importância das práticas culturais da negritude afro-brasileira no contexto brasileiro. Por fim, e a partir do modelo africano, tenta lançar hipóteses, pistas e questões sobre os processos vindouros de internacionalização da capoeira.