Trajetórias do sagrado
DOI:
https://doi.org/10.1590/S0103-20702008000200006Palavras-chave:
Pluralismo religioso, Trajetórias religiosas, Duplicidade religiosa, Religião individualResumo
O objetivo deste artigo é analisar a dinâmica atual do campo religioso paulistano, vista não por intermédio da pluralidade de suas organizações religiosas, nem dos posicionamentos de lideranças eclesiais ou grupais. Nele focamos os agentes religiosos individuais e suas atitudes diante do pluralismo religioso crescente, que culminou na formação de um campo altamente diversificado. Para isso selecionamos indivíduos que são mutantes religiosos, isto é, que mudaram de orientação religiosa ao menos uma vez em suas vidas, ou então que são dúplices ou multíplices religiosos, participantes de dois ou mais universos simbólico-religiosos simultaneamente. Por meio do levantamento de suas trajetórias religiosas analisaram-se suas crenças e práticas rituais, independentemente da pertença ou não a grupos organizados. Com a única exceção dos protestantes, tanto históricos quanto pentecostais - estes um tanto diferenciados pela incorporação da magia -, ainda ancorados na concepção de um Deus transcendente e numa forte eclesialidade, podem ser detectadas tendências em direção a uma religiosidade que Troeltsch chamou de mística, o que implicaria, segundo Campbell, em sua orientalização. Os adeptos de qualquer outra religião ou então os dúplices/multíplices aproximam-se de concepções religiosas místicas e práticas mágicas vividas na privacidade, admitem a freqüência a grupos religiosos diversos e repudiam o autoritarismo clerical. As velhas tramas das duplicidades religiosas tradicionais (catolicismo/espiritismo; catolicismo religiões afro-brasileiras) ampliam-se com novas formas (católica/protestante; católica/outras religiões) e com a emergência da multiplicidade, reproduzindo à brasileira as mesmas transformações vividas há muito em todo o Ocidente.
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Referências
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