Mortalidade atribuída à doença falciforme em crianças e adolescentes no Brasil, 2000–2019
DOI:
https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2022056003681Palavras-chave:
Criança, Adolescente, Anemia Falciforme, epidemiologia, Mortalidade, tendências, Estudos de Séries TemporaisResumo
OBJETIVO Estimar taxas e descrever tendências de mortalidade atribuídas à doença falciforme em crianças e adolescentes no Brasil, de 2000 a 2019. MÉTODOS Este é um estudo ecológico do tipo séries temporais de taxas de mortalidade que usou o método autorregressivo, proposto por Prais-Winsten, para avaliar tendências das taxas estimadas de mortes por doença falciforme em crianças e adolescentes no Brasil. Os óbitos com código D57 foram obtidos no Sistema de Informações sobre Mortalidade, considerando as faixas etárias (0–4, 5–9, 10–14, 15–19 anos) e usados para estimar taxas específicas por idade e taxas padronizadas por sexo e idade. RESULTADOS De 2000 a 2019, houve 2.422 óbitos por doença falciforme em menores de 20 anos no Brasil, com maior frequência na região Nordeste (40,46%), seguida de Sudeste (39,02%), Centro-Oeste (9,58%), Norte (7,84%) e Sul (3,10%). As principais vítimas foram pessoas de raça/cor da pele negra (78,73%). No Brasil, a taxa média padronizada global foi de 0,20/100 mil pessoa-ano, com tendência de elevação (mudança percentual anual – APC = 5,44%; intervalo de confiança – IC95% 2,57–8,39). O padrão se repetiu no sexo masculino (APC = 4,38%; IC95% 2,17–6,64) e no sexo feminino (APC = 6,96%; IC95% 3,05–11,01). A elaboração de taxas específicas por idade mostrou que a faixa até quatro anos experimentou as maiores taxas, sem distinção por região. A faixa etária de 15 e 19 anos foi a segunda mais afetada no Brasil e nas regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste. CONCLUSÃO Houve tendência de aumento dos óbitos por transtornos falciformes em crianças e adolescentes. Considerando que a magnitude dos óbitos foi mais evidente nos primeiros anos (0–4) e no final da adolescência (15–19), o estudo sugere que abordagens específicas por faixa etária podem impactar no controle dos desfechos fatais causados pela doença falciforme no Brasil.
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