Produtivismo acadêmico: quando a demanda supera o tempo de trabalho

Autores

  • Talita da Silveira Campos Teixeira Universidade de São Paulo
  • Elaine Cristina Marqueze Universidade de São Paulo
  • Claudia Roberta de Castro Moreno Universidade de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2020054002288

Palavras-chave:

Docentes, Universidades, Atividades Científicas e Tecnológicas, Sucesso Acadêmico, Eficiência Organizacional, Condições de Trabalho, Satisfação no Emprego, Saúde do Trabalhador

Resumo

OBJETIVOS: Avaliar a associação entre a percepção da pressão por publicações com a satisfação e o estresse no trabalho. MÉTODOS: Estudo transversal com 64 orientadores de pós-graduação de uma universidade pública da cidade de São Paulo. A coleta de dados ocorreu por meio de um questionário on-line que incluiu: dados sociodemográficos, laborais e de saúde; Escala de Satisfação no Trabalho do Occupational Stress Indicator e modelo Desequilíbrio Esforço-Recompensa (DER). Para avaliar a percepção da pressão por publicação foi criada uma escala numérica na qual o orientador deveria atribuir uma nota de 0 a 10 para o quanto se sentia pressionado a publicar seus trabalhos (sendo 0 nenhuma pressão e 10 muita pressão). Posteriormente, foi utilizado o modelo linear generalizado para testar os fatores associados à alta percepção de pressão para publicação, ajustado pelo tempo de trabalho, função de gestão acadêmica e bolsa produtividade. RESULTADOS: Maiores proporções da percepção de elevada pressão para publicação foram encontradas entre orientadores que já haviam trabalhado em instituição de ensino superior, que realizavam parte do trabalho em casa e que apresentavam estresse laboral. Associou-se essa percepção a um maior esforço e comprometimento excessivo no trabalho, bem como a um maior desequilíbrio entre o esforço empregado e a recompensa recebida no trabalho. CONCLUSÕES: Os achados desta pesquisa sugerem que a organização do trabalho e a saúde mental dos trabalhadores estejam inter-relacionados: quanto maior a percepção de pressão por publicação maior o estresse. No entanto, esse resultado parece não se refletir na satisfação (ou insatisfação) do trabalho. O prolongamento aparentemente deliberado das horas de trabalho oculta a precarização e intensificação do trabalho a que os professores têm sido submetidos nos últimos anos pelas políticas públicas que mercantilizam a educação no Brasil.

Biografia do Autor

  • Talita da Silveira Campos Teixeira, Universidade de São Paulo

    Universidade de São Paulo. Faculdade de Saúde Pública. Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública. São Paulo, SP, Brasil

  • Elaine Cristina Marqueze, Universidade de São Paulo

    Universidade de São Paulo. Faculdade de Saúde Pública. Departamento de Saúde, Ciclos de Vida e Sociedade. São Paulo, SP, Brasil
    Universidade Católica de Santos. Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva. Departamento de
    Epidemiologia. Santos, SP, Brasil

  • Claudia Roberta de Castro Moreno, Universidade de São Paulo

    Universidade de São Paulo. Faculdade de Saúde Pública. Departamento de Saúde, Ciclos de Vida e Sociedade. São Paulo, SP, Brasil
    Stockholm University. Stress Research Institute. Department of Psychology. Stockholm, Sweden

Referências

De Meis L, Velloso A, Lannes D, Carmo MS, De Meis C. The growing competition in Brazilian science: rites of passage, stress and burnout. Braz J Med Biol Res. 2003;36(9):1135-41. https://doi.org/10.1590/S0100-879X2003000900001

Mancebo D. Trabalho docente: subjetividade, sobreimplicação e prazer. Psicol Reflex Crit. 2007;20(1):74-80. https://doi.org/10.1590/S0102-79722007000100010.

Leite JL. Publicar ou perecer: a esfinge do produtivismo acadêmico. Rev Katálysis. 2017;20(2):207-15. https://doi.org/10.1590/1982-02592017v20n2p207

Rotenberg L, Carlos RSL. How social acceleration affects the work practices of academics: a study in Brazil. Ger J Hum Resour Manag. 2018;33(3-4):257-270. https://doi.org/10.1177/2397002218788781

Luz MT. Notas sobre a política de produtividade em pesquisa no Brasil: consequências para a vida acadêmica, a ética no trabalho e a saúde dos trabalhadores. Polit Soc. 2008;7(13):205-28. https://doi.org/10.5007/2175-7984.2008v7n13p205

Bianchetti L, Machado AMN. Publicar & morrer!? Análise do impacto das políticas de pesquisa e pós-graduação na constituição do tempo de trabalho dos investigadores. Educ Soc Cult. 2009 [cited 2019 Feb 10];(28):53-69. Available from: https://www.fpce.up.pt/ciie/revistaesc/ESC28/28_lucidio.pdf

Silva MGM. A produção docente e a avaliação dos programas de pós-graduação: um estudo na pós-graduação da UFMT. Rev Educ Publica. 2009;18(37):383-401.

https://doi.org/10.29286/rep.v18i37.489 8. Sguissardi V. Produtivismo acadêmico. In: Oliveira DA, Duarte AMC., Vieira LMF. Dicionário: trabalho, profissão e condição docente [CDROOM]. Belo Horizonte: Faculdade de Educação da UFMG; 2010. Available from: http://gestrado.net.br/?pg=dicionario-verbetes&id=336

Lemos MC, Passos JP. Satisfação e frustração no desempenho do trabalho docente em enfermagem. REME Rev Min Enferm. 2012;16(1):48-55.

Borsoi ICF, Pereira FS. Professores do ensino público superior: produtividade, produtivismo e adoecimento. Univ Psychol. 2013 [cited 2019 Feb 10];12(4):1213-35. Available from: http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1657-92672013000400018

Cassandre MP. Saúde dos docentes dos cursos de stricto-sensu: os danos causados por imposições do processo avaliativo. Rev Subjetiv. 2011;11(2):779-816.

Kinman G. Pressure points: a review of research on stressors and strains in UK academics. Educ Psychol. 2001;21(4):473-92. https://doi.org/10.1080/01443410120090849

Swan JA, Moraes LFR, Cooper CL. Developing the occupational stress indicator (OSI) for use in Brazil: a report on the reliability and validity of the translated OSI. Stress Med. 1993;9(4):247-53. https://doi.org/10.1002/smi.2460090407

Chor D, Werneck GL, Faerstein E, Alves MGM, Rotenberg L. The Brazilian version of the effort-reward imbalance questionnaire to assess job stress. Cad Saude Publica. 2008;24(1):219-24. https://doi.org/10.1590/S0102-311X2008000100022

Mark G, Smith AP. Effects of occupational stress, job characteristics, coping, and attributional style on the mental health and job satisfaction of university employees. Anxiety Stress Coping. 2012;25(1):63-78. https://doi.org/10.1080/10615806.2010.548088

Siegrist J. Effort-reward imbalance at work and health. In: Perrewe´PL, Ganster DC, editors. Research in occupational stress and well-being. Vol 2. Historical and current perspectives on stress and health; p.261-91. Bingley (UK): Emerald Group Publishing; 2002. p.261-91.

Siegrist J, Starke D, Chandola T, Godin M, Marmot I, Niedhammer I, et al. The measurement of effort-reward imbalance at work: European comparisons. Soc Sci Med. 2004;58(8):1483-99. https://doi.org/10.1016/S0277-9536(03)00351-4

Blix AG, Cruise RJ, Mitchell BM, Blix GG. Occupational stress among university teachers. J Educ Res. 1994;36(2):157-69. https://doi.org/10.1080/0013188940360205

Abouserie R. Stress, coping strategies and job satisfaction in university academic staff. Educ Psychol. 1996;16(1:49-56. https://doi.org/10.1080/0144341960160104

Ferenc AVF, Brandão ACP, Braúna RCA. Condições de trabalho docente em uma universidade pública. Rev Eletron Pesquiseduca. 2015 [cited 2019 Feb 10];7(14):358-84. Available from: http://periodicos.unisantos.br/index.php/pesquiseduca/article/view/405

Ministério da Educação (BR), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, Diretoria de Avaliação. Relatório de avaliação – Saúde Coletiva. Avaliação quadrienal 2017. Brasília, DF;2017 [cited 2019 Feb 10]. Available from: http://capes.gov.br/images/stories/

download/avaliacao/relatorios-finais-quadrienal-2017/20122017-SAUDE-COLETIVA-quadrienal.pdf

Universidade de São Paulo, Vice Reitoria Executiva de Administração. Anuário Estatístico da Universidade de São Paulo. São Paulo; 2018. Available from: https://uspdigital.usp.br/anuario/AnuarioControle

Hoffmann C, Marchi J, Comoretto E, Moura GL. Relações entre autoconceito profissional e produtivismo na pós-graduação. Psicol Soc. 2018;30:e167961.

https://doi.org/10.1590/1807-0310/2018v30167961

Tijding JK. Publish & Perish; research on research and researchers. Tijdschr Psychiatr. 2017 [citado 10 fev 2019];59(7):406-13. Available from: http://www.tijdschriftvoorpsychiatrie.nl/en/issues/515/articles/11417

Santos JHS, Kind L. Produtividade acadêmica e modulações no trabalho do pesquisador em Psicologia. Psicol Rev. 2016;22(1):223-44. https://doi.org/10.5752/P.1678-9523.2016V22N1P223

Correa-Correa Z, Munoz-Zambrano I, Chaparro AF. Síndrome de Burnout en docentes de dos universidades de Popayán, Colombia. Rev Salud Publica. 2010;12(4):589-98.

Mendoça-Lima MFE, Lima-Filho DO. Condições de trabalho e saúde do/a professor/a universitário/a. Cienc Cognição. 2009 [cited 2019 Feb 10];14(3):62-82. Available from: http://www.cienciasecognicao.org/revista/index.php/cec/article/view/253

Cross, D, Thomson S, Sinclair A. Research in Brazil – a report for CAPES by Clarivate Analytics. Boston; 2017.

Clot Y. A função psicológica do Trabalho. Petrópolis: Vozes; 2007.

Publicado

2020-12-15

Edição

Seção

Artigos Originais

Como Citar

Teixeira, T. da S. C., Marqueze, E. C., & Moreno, C. R. de C. (2020). Produtivismo acadêmico: quando a demanda supera o tempo de trabalho. Revista De Saúde Pública, 54, 117. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2020054002288