“Dá ku torno!”: Batuko e territórios identitários na diáspora caboverdiana
DOI:
https://doi.org/10.11606/rm.v24i1.225961Palavras-chave:
batuko, identidade desterritorializada, Cabo Verde, diasporaResumo
Este artigo propõe uma análise de processos de identificação existentes no batuku, prática expressiva originária da ilha de Santiago em Cabo Verde, através da observação da atuação das Batukadeiras X. Este grupo, formado na maioria por jovens nascidas em Portugal e Cabo Verde, ganhou destaque internacional ao participar na turnê Madame X da cantora norte-americana Madonna. O espetáculo integrava referências da cultura expressiva afro-portuguesa que a artista absorveu durante a sua estadia em Lisboa, entre 2017 e 2019, e através dessa colaboração, as integrantes das Batukadeiras X vivenciaram um regresso a uma pátria imaginada, ao se reconectar com suas raízes caboverdianas num contexto subalternizado. Este retorno às origens destas jovens não foi apenas um resgate cultural, mas também uma forma criativa de redescoberta e afirmação identitária. Esta vivência também permitiu que estas jovens refletissem sobre a agencialidade do corpo em espaços performáticos, e na conscientização do batuku enquanto prática expressiva da identidade e da memória coletiva, particularmente no contexto da diáspora.
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