Meditação e fúria: o free jazz diante das perspectivas políticas antirracistas dos primeiros anos da década 60 e sua “virada ao gueto”
DOI:
https://doi.org/10.11606/rm.v24i1.225824Palavras-chave:
Direitos Civis, Antirracismo, Free jazz, Emancipação negra, EstéticaResumo
Nos anos 60, os Estados Unidos da América ainda se encontravam sob um regime racial segregacionista que obliterava as possibilidades reais de inserção da parcela negra da população em suas dinâmicas política, econômica e social, precipuamente com um escalonamento da violência de cariz racista tanto no Sul quanto no Norte. Nesse contexto, as figuras de Martin Luther King Jr. e Malcolm X ganham bastante proeminência enquanto principais líderes políticos dessa população historicamente vilipendiada e excluída. Malcolm X, especialmente, defendia uma ideia bastante original de emancipação negra, preconizando como um de seus fatores fulcrais o florescimento de uma cultura negra revolucionária, dando especial destaque para a realidade racial dos centros urbanos. Contemporâneo a tais debates, o free jazz irrompe, a nosso ver, como uma das principais ramificações espontâneas da ideia de Malcolm por meio de uma insurreição sonora que, ao mesmo tempo em que buscava reinventar-se a partir da tradição aural afro-americana, pretendia aproximar-se da realidade dos guetos urbanos; locus privilegiado das tensões raciais que escalonavam vertiginosamente, muitas vezes resultando no reforço da violência racista pelas próprias autoridades governamentais. Como pretendemos demonstrar, é através do encontro entre o free jazz e a conjuntura racial dos guetos que um engajamento mais profundo dos músicos com uma estética revolucionária ganha forma, se inscrevendo, assim, como um dos mais importantes episódios da imbricação entre estética e política no século XX.
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