Berkeley e o relógio vazio. Um exercício em filosofia da ciência
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2447-9020.intelligere.2023.217485Palavras-chave:
George Berkeley, Inatividade casual dos corpos, Filosofia natural, Explicações científicas, Realismo científicoResumo
Neste artigo forneço evidências para a visão, frequentemente questionada na literatura, de que Berkeley concebeu e explorou sistematicamente, desde seus cadernos de juventude até sua última grande obra, Siris, um projeto filosófico coerente e unificado para a filosofia natural, cujos fundamentos metafísicos são a imaterialidade e inatividade causal dos corpos, derivados, a seu turno, de uma teoria do conhecimento estritamente empirista. Elegendo como eixo principal o tratamento dado por Berkeley à aparente irregularidade dos fenômenos naturais, procuro mostrar que há recursos suficientes, dentro de seu próprio sistema, para lidar com as múltiplas dificuldades que têm sido apontadas para que nele se enxergue a busca de um objetivo bem definido, anunciado explicitamente nos subtítulos dos Princípios e dos Três Diálogos: investigar as “principais causas de erros e dificuldades nas ciências”, para que sejam tornadas “mais fáceis, úteis e enxutas”. Em que pese o risco de eventuais anacronismos, sugiro, como recurso adicional de análise do projeto berkeleyano, alguns possíveis paralelos entre ele e a forma pela qual o problema do realismo científico já vinha sendo efetivamente tratado desde, pelo menos, Descartes, e que em nossos dias alcançou proeminência nos debates entre filósofos da ciência.
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