A expulsão de um missionário “tapuitinga” da Amazônia pombalina: a carta-ânua do padre Lourenço Kaulen (1755-1756)
The Annual Letter of father Lourenço Kaulen (1755-1756)
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2316-9141.rh.2019.149168Palavras-chave:
Companhia de Jesus, Padres “tapuitinga”, Amazônia colonial, Política pombalina, Escrita missionáriaResumo
Em 1756, um ano após a promulgação das primeiras leis reformadoras do futuro Marquês de Pombal para a Amazônia portuguesa, o jesuíta Lourenço Kaulen redigiu, enquanto missionário da aldeia de Piraguiri no rio Xingu, uma carta-ânua. Nela, além das atividades pastorais regulares, ele descreveu sua expulsão violenta da missão. Integrante do grupo de padres “tapuitinga”, ou centro-europeus, que vieram no início da década de 1750, Kaulen é um dos primeiros religiosos a ser acusado de desobediência à nova legislação. A carta-ânua, além de relatar o precário cotidiano numa missão remota no interior amazônico, constitui uma das primeiras referências a uma ação antijesuítica que, por sinal, contou com a implicação direta dos neófitos indígenas.
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OFÍCIO do [governador interino do Estado do Maranhão e Pará], Bispo do Pará, D. Fr. Miguel de Bulhões e Sousa], para o [secretário de Estado da Marinha e Ultramar], Tomé Joaquim da Costa Corte Real, sobre a necessidade de se elaborar um directório espiritual para reger as paróquias e converter os índios mal encaminhados pelos missionários da Companhia de Jesus. Pará, 29 nov. 1757b. Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_CU_013, Cx. 43, D. 3919.
OFÍCIO do [governador e capitão general do Estado do Maranhão e Pará], Francisco Xavier de Mendonça FURTADO, para o [secretário de estado da Marinha e Ultramar], Tomé Joaquim da Costa Corte Real, sobre a má conduta e os crimes praticados pelos padres Lourenço Kaulen e António Meisterbourg nos aldeamentos daquele Estado. Pará, 12 fev. 1759. Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_CU_013, Cx. 44, D. 4010.
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