Mulheres-Onça: mitologia, gênero e antropofagia no Complexo do Marico
DOI:
https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2022.192785Palavras-chave:
Mitologia ameríndia, Antropofagia, Sudoeste Amazônico, GêneroResumo
As narrativas mitológicas dos povos originários dos afluentes da margem direita do médio rio Guaporé revelam uma íntima conexão entre relações de gênero e a diferença humano/animal/espírito. Enfatizam, por um lado, as condições de possibilidade de uma sociedade composta por relações de sexo oposto, e por outro lado, a “antropofagia” praticada pelas mulheres. A partir da articulação com a etnografia cotidiana, em particular referente à produção e consumo de bebida fermentada, o artigo sugere que a antropofagia feminina, i.e., a identificação virtual das mulheres com as onças, é a condição para a diferença (atual) que separa os humanos dos não-humanos e os humanos entre si.
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