Como o SARS-COV-2 virou SARS-COV-2: a trajetória de um objeto científico no início da pandemia no Brasil
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2594-5920.primeirosescritos.2021.178174Palavras-chave:
SARS-COV-2, Ciência, Tecnologia, Potência de Agir, OntologiaResumo
Este artigo tem por objetivo tecer reflexões acerca do SARS-COV-2 a partir da ontologia contingente de Bruno Latour, indicando a possibilidade de acompanhar em retrospectiva os passos pelos quais o novo coronavírus foi desenvolvendo capacidade crescente de, agindo, fazer-nos agir. Diante das controvérsias suscitadas pela pandemia, realizou-se um estudo de caso que teve por fontes o depoimento público de especialistas quanto à gravidade da situação e postagens humorísticas na internet (memes) que circularam durante o início do ano de 2020. Observou-se que, conforme o status do vírus modificava-se através de novas associações tecnocientíficas, houve, respectivamente a cada fonte, robusta mudança de posicionamento e ligeira tendência da ironia à preocupação. Com isso, busca-se mapear a trajetória inicial traçada pelo SARS-COV-2 enquanto um objeto científico, relacionando-se as transformações por ele sofridas em sua potência de agir ao acúmulo e à articulação de fatos científicos gradualmente estabelecidos. Sugere-se, em conclusão, que tais transformações implicam a constante reformulação, sob risco de incoerência, das respostas coletivas ao vírus.Referências
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