Formas não proprietárias de morar ameaçadas: despejos e remoções em São Paulo durante a pandemia de COVID-19

Resumo

A conjunção perversa entre uma crise social e econômica aprofundada durante o período da pandemia de Covid-19 (2020-2022) – com aumento do desemprego, deterioração da renda e endividamento – e um boom imobiliário inédito, que ocasionou alta do preço de terrenos e aluguéis, deram origem a novas ocupações e intensificaram os processos de expulsão de locatários e ocupantes, resultando em um aumento do número de remoções e despejos no município de São Paulo. Entretanto, o fenômeno das remoções e despejos é bastante invisível no campo das políticas urbanas. Neste artigo, procuramos apresentar os métodos utilizados pelo Observatório de Remoções para tornar visíveis esses processos, utilizando a cartografia como método de pesquisa e análise. Combinamos bases de dados originadas em diferentes fontes, de forma a identificar lógicas territoriais presentes nas mudanças na dinâmica imobiliário-locatícia que provocam a remoção de formas não proprietárias de morar. Também procuramos relacionar esses processos com políticas, planos e projetos governamentais, que passam a assumir o papel de incentivar o mercado para a produção de novos produtos imobiliários ou o oferecimento do aluguel como serviço, em um contexto de crescimento da participação dos imóveis como ativos financeiros.