Call for Papers Dossiê 48 |Comunicação, emergência climática e Amazônia
A fotografia do planeta Terra tirada pela NASA nos anos 1960 se tornou um símbolo da emergência da questão ambiental e metáfora-chave das narrativas de sustentabilidade (Hajer, 1995). Mas foi apenas a partir dos anos 1990 que a comunicação ambiental foi se fortalecendo como campo de práticas e estudos (Aguiar & Cerqueira, 2012), assumindo para si um dever ético diante das múltiplas crises socioambientais que vêm se agravando desde então (Cox, 2007).
É preciso lembrar que há uma relação intrínseca entre o aumento das desigualdades, a desregulamentação e o negacionismo climático (Latour, 2020). E que o enfrentamento a essa tríade perversa se dá no contexto da sociedade da informação, na qual a informação constitui matéria-prima estratégica e as tecnologias de informação e comunicação moldam as atividades humanas (mas não as determinam) (Castells, 2007). Por isso, é cada vez mais urgente levarmos a sério o alerta de que precisamos superar tanto as concepções economicistas de desenvolvimento quanto a visão instrumental da comunicação (Brianezi & Gattás, 2022).
A partir do reconhecimento de que a questão ambiental é central em qualquer debate sobre a sociedade contemporânea e indissociável do sistema midiático, este dossiê temático “Comunicação, emergência climática e Amazônia” da Organicom - Revista Brasileira de Comunicação Organizacional e Relações Públicas acolherá artigos, depoimentos, resenhas, entrevistas e pesquisas de especialistas conceituados nacional e internacionalmente, com o propósito de democratizar a produção científica acerca dos seguintes tópicos centrais (não exaustivos):
- Discursos sobre meio ambiente e sustentabilidade no contexto da emergência climática nas Amazônias;
- Comunicação, questões socioambientais e interseccionalidades nas Amazônias;
- Manifestações da desinformação e do negacionismo climático (e estratégias de combate a elas) na comunicação organizacional e nas relações públicas;
- O papel da comunicação organizacional e das relações públicas nas políticas socioambientais: formação de agenda, elaboração, implementação, monitoramento e avaliação;
- Perspectivas dialógicas para a comunicação pública das ciências e como lidam com a falsa dicotomia entre natureza e cultura;
- Comunicação, meio ambiente e (des)aceleração;
- Amazônias como laboratórios de (r)existência;
- Agenda 2030: os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável como palco de alianças e disputas nas Amazônias;
- Os saberes tradicionais como basilares para a preservação da Floresta Amazônica;
- Movimentos sociais e a comunicação para a sustentabilidade nas Amazônias;
- Formas de agendamento da questão climática como um problema público;
- Ativismos climáticos e suas mobilizações nas Amazônias;
- Redes e produção do conhecimento sobre a questão climática nas Amazônias
- Percepções dos públicos com relação à mudança climática e a importância da preservação da Floresta Amazônica nesse processo;
- A importância das expressões culturais regionais na sensibilização sobre o clima;
- A comunicação para a sustentabilidade de organizações instaladas na Amazônia.
Em termos de extensão territorial, a Amazônia brasileira ocupa mais de cinco milhões de Km² (o Brasil inteiro tem 8,5 milhões de Km²), sendo maior que toda a Europa Ocidental. Se os números não bastam para caracterizar a diversidade e complexidade da região, não compatíveis com simplificações grotescas ou generalizações oportunistas que alternam entre inferno e paraíso verdes (Godim, 2004), servem ao propósito de dar a dimensão de sua amplitude e importância, frequentemente negligenciadas.
Nessa luta pela descolonização de territórios e mentes, há muito que se aprender com os chamados povos floresta, que nos ensinam que existência e resistência são indissociáveis (Brum, 2021) e a como sobreviver aos fins dos mundos ou adiá-los, contando outras e múltiplas histórias (Krenak, 2019), que questionam as representações, as centralidades e os universos (história única) do povo mercadoria (Kopeawa & Albert, 2019).
Aguiar S & Cerqueira JF. 2012. Comunicação ambiental como campo de práticas e de estudos. Revista Comunicação & Inovação, v. 13, n. 24, 11-20.
Brianezi T & Gattás C. 2022. A educomunicação como comunicação para o desenvolvimento sustentável. Revista Latinoamericana de Ciencias de la Comunicación, [S. l.], v. 21, n. 41, 2022. pp. 33-43.
Brum E. 2021. Banzeiro Òkòtó: uma viagem à Amazônia centro do mundo. Cia. das Letras.
Castells M. 1999. A Era da Informação: economia, sociedade e cultura. Volume II. O Poder da Identidade. Editora Paz e Terra.
Cox R. 2007. Nature’s ‘Crisis Disciplines’: Does Environmental Communication Have an Ethical Duty? Environmental Communication: A Journal of Nature and Culture, 1:1, 5-20.
Godim N. 1994. A Invenção da Amazônia. Marco Zero.
Hajer M. 1995. The Politics of Environmental Discourse. Ecological modernization and the policy process. Clarendon Press.
Kopenawa D &Albert B. 2010. A queda do céu: palavras de um shaman yanomami. Sao Paulo: Companhia das Letras.
Krenak A. 2019. Ideias para Adiar o Fim do Mundo. São Paulo: Companhia das Letras.
Latour B. 2020. Onde aterrar? Como se orientar politicamente no Antropoceno. Bazar do Tempo.
ORIENTAÇÕES PARA AUTORAS E AUTORES
Data limite para envio de artigos: 31/05/2025.
Os textos devem seguir as normas da revista, que estão disponíveis em: https://www.revistas.usp.br/organicom/about/submissions
COORDENADORES DO DOSSIÊ
Thaís Brianezi- Universidade de São Paulo - USP - tbrianezi@usp.br
Aline Ferreira Lira - Universidade Federal do Amazonas - UFAM - aline@ufam.edu.br
Israel de Jesus Rocha - Universidade Federal do Amazonas - UFAM - israelrocha@ufam.edu.br