Call for Papers Dossiê 48 |Comunicação, emergência climática e Amazônia

2025-04-09

A fotografia do planeta Terra tirada pela NASA nos anos 1960 se tornou um símbolo da emergência da questão ambiental e metáfora-chave das narrativas de sustentabilidade (Hajer, 1995). Mas foi apenas a partir dos anos 1990 que a  comunicação ambiental foi se fortalecendo como campo de práticas e estudos (Aguiar & Cerqueira, 2012), assumindo para si um dever ético diante das múltiplas crises socioambientais que vêm se agravando desde então (Cox, 2007). 

É preciso lembrar que há uma relação intrínseca entre o aumento das desigualdades, a desregulamentação e o negacionismo climático (Latour, 2020). E que o enfrentamento a essa tríade perversa se dá no contexto da sociedade da informação, na qual a informação constitui matéria-prima estratégica e as tecnologias de informação e comunicação moldam as atividades humanas (mas não as determinam) (Castells, 2007). Por isso, é cada vez mais urgente levarmos a sério o alerta de que precisamos superar tanto as concepções economicistas de desenvolvimento quanto a visão instrumental da comunicação (Brianezi & Gattás, 2022). 

A partir do reconhecimento de que a questão ambiental é central em qualquer debate sobre a sociedade contemporânea e indissociável do sistema midiático, este dossiê temático “Comunicação, emergência climática e Amazônia” da Organicom - Revista Brasileira de Comunicação Organizacional e Relações Públicas acolherá artigos, depoimentos, resenhas, entrevistas e pesquisas de especialistas conceituados nacional e internacionalmente, com o propósito de democratizar a produção científica acerca dos seguintes tópicos centrais (não exaustivos): 

  • Discursos sobre meio ambiente e sustentabilidade no contexto da emergência climática nas Amazônias;
  • Comunicação, questões socioambientais e interseccionalidades nas Amazônias;
  • Manifestações da desinformação e do negacionismo climático (e estratégias de combate a elas) na comunicação organizacional e nas relações públicas; 
  • O papel da comunicação organizacional e das relações públicas nas políticas socioambientais: formação de agenda, elaboração, implementação, monitoramento e avaliação;
  • Perspectivas dialógicas para a comunicação pública das ciências e como lidam com a falsa dicotomia entre natureza e cultura;
  • Comunicação, meio ambiente e (des)aceleração; 
  • Amazônias como laboratórios de (r)existência; 
  • Agenda 2030: os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável como palco de alianças e disputas nas Amazônias;
  • Os saberes tradicionais como basilares para a preservação da Floresta Amazônica;
  • Movimentos sociais e a comunicação para a sustentabilidade nas Amazônias;
  • Formas de agendamento da questão climática como um problema público;
  • Ativismos climáticos e suas mobilizações nas Amazônias;
  • Redes e produção do conhecimento sobre a questão climática nas Amazônias
  • Percepções dos públicos com relação à mudança climática  e a importância da preservação da Floresta Amazônica nesse processo;
  • A importância das expressões culturais regionais na sensibilização sobre o clima;
  • A comunicação para a sustentabilidade de organizações instaladas na Amazônia.

Em termos de extensão territorial, a Amazônia brasileira ocupa mais de cinco milhões de Km² (o Brasil inteiro tem 8,5 milhões de Km²), sendo maior que toda a Europa Ocidental. Se os números não bastam para caracterizar a diversidade e complexidade da região, não compatíveis com simplificações grotescas ou generalizações oportunistas que alternam entre inferno e paraíso verdes (Godim, 2004), servem ao propósito de dar a dimensão de sua amplitude e importância, frequentemente negligenciadas.

Nessa luta pela descolonização de territórios e mentes, há muito que se aprender com os chamados povos floresta, que nos ensinam que existência e resistência são indissociáveis (Brum, 2021) e a como sobreviver aos fins dos mundos ou adiá-los, contando outras e múltiplas histórias (Krenak, 2019), que questionam as representações, as centralidades e os universos (história única) do povo mercadoria (Kopeawa & Albert, 2019).

 

Aguiar S & Cerqueira JF. 2012. Comunicação ambiental como campo de práticas e de estudos. Revista Comunicação & Inovação, v. 13, n. 24, 11-20.

Brianezi T & Gattás C. 2022. A educomunicação como comunicação para o desenvolvimento sustentável. Revista Latinoamericana de Ciencias de la Comunicación, [S. l.], v. 21, n. 41, 2022. pp. 33-43.

Brum E. 2021. Banzeiro Òkòtó: uma viagem à Amazônia centro do mundo. Cia. das Letras.

Castells M. 1999. A Era da Informação: economia, sociedade e cultura. Volume II. O Poder da Identidade. Editora Paz e Terra.

Cox R. 2007. Nature’s ‘Crisis Disciplines’: Does Environmental Communication Have an Ethical Duty? Environmental Communication: A Journal of Nature and Culture, 1:1, 5-20.

Godim N. 1994. A Invenção da Amazônia. Marco Zero. 

Hajer M. 1995. The Politics of Environmental Discourse. Ecological modernization and the policy process. Clarendon Press.

Kopenawa D &Albert B. 2010. A queda do céu: palavras de um shaman yanomami. Sao Paulo: Companhia das Letras. 

Krenak A. 2019. Ideias para Adiar o Fim do Mundo. São Paulo: Companhia das Letras.

Latour B. 2020. Onde aterrar? Como se orientar politicamente no Antropoceno. Bazar do Tempo.

 

ORIENTAÇÕES PARA AUTORAS E AUTORES

Data limite para envio de artigos: 31/05/2025.

Os textos devem seguir as normas da revista, que estão disponíveis em: https://www.revistas.usp.br/organicom/about/submissions

 

COORDENADORES DO DOSSIÊ

Thaís Brianezi- Universidade de São Paulo - USP - tbrianezi@usp.br 

Aline Ferreira Lira - Universidade Federal do Amazonas - UFAM - aline@ufam.edu.br 

Israel de Jesus Rocha - Universidade Federal do Amazonas - UFAM -   israelrocha@ufam.edu.br