[Opiniães 22: Dossiê] As mãos das obras: representações dos trabalhadores urbanos na literatura brasileira
A vigésima segunda edição da Opiniães: revista dos alunos de literatura brasileira se propõe a refletir sobre as representações literárias da mão de obra que sustenta a cidade. Voltamos nosso olhar para aqueles que transitam e se deslocam pela urbe, exercendo diversas funções que compõem o funcionamento da vida urbana desde o século XIX até hoje.
O passado escravocrata nos legou relações trabalhistas complexas que esbarram em diversas tentativas de conceituações, como "proletariado e lumpemproletariado" (de Marx), o "inorgânico" (de Caio Prado Jr.), a "ralé e os batalhadores" (de Jessé de Souza), o "precariado" (de Guy Standing/ Ruy Braga), "as invisíveis que abrem a cidade" (de Françoise Verger) etc. Embora passíveis de problematizações, esses são alguns dos nomes que os trabalhadores urbanos podem receber para abarcar os atores que compõem a "botânica do asfalto" (na expressão de Walter Benjamin), heterogênea em gênero, raça, origem e outras conjunturas.
Motivados pelos noventa anos de publicação dos primeiros autointitulados romances proletários no Brasil, Parque Industrial de Patrícia Galvão e Cacau de Jorge Amado, lançados em 1933, a Opiniães deseja aproveitar a oportunidade para aprofundar o debate sobre essa estética específica e suas particularidades brasileiras.
Além do romance proletário, gostaríamos também de realçar o diálogo com obras que se destacaram por revelar uma mudança na representação dos trabalhadores, como ocorre em Eles não usam black tie, de Francesco Guarnieri (1958), Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus (1960), Capão Pecado de Ferréz (2000), Treme ainda de Fábio Weintraub (2015), dentre outras. Muito bem vindas seriam pesquisas de obras potentes na figuração do trabalhador que foram apagadas das narrativas oficiais, sejam elas de prosa, poesia ou dramaturgia, como a produção anarquista do início do século XX, por exemplo. Para além das grandes capitais, procuramos também contribuições que tratem dos trabalhadores dos rincões urbanos ou ainda trabalhos que não se esgotam nos espaços citadinos, mas que os perpassam.
Propomos também uma antologia inédita de poesia e contos (de autores pertencentes ou não ao círculo acadêmico), bem como um conjunto de traduções inéditas que versem sobre a temática do dossiê. Além do dossiê temático e suas articulações, outras seções de conteúdo se desenvolvem na revista, como Tema Livre para artigos, Criação literária (poesia e prosa), Tradução e Resenha. Para os últimos três, o recebimento de contribuições inéditas é em fluxo contínuo.
As submissões dos textos devem ser enviadas pelo site da revista de 15 de outubro de 2022 até 15 de janeiro de 2023. A Opiniães aceitará artigos e textos de pesquisadores vinculados ou não a instituições acadêmicas, não sendo necessário título de mestre e/ou doutor. Mais informações sobre a preparação dos manuscritos e submissão dos textos, consulte o link: https://www.revistas.usp.br/opiniaes.
Editores: Ayana Moreira Dias, Cecilia Silva Furquim Marinho, Gabriela Lopes de Azevedo, Marina Darmaros e Tiago Mouallem