O médico higienista na escola: as origens históricas da medicalização do fracasso escolar

Autores

  • Patrícia Carla Silva do Vale Zucoloto Universidade Federal da Bahia; Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas

DOI:

https://doi.org/10.7322/jhgd.19822

Palavras-chave:

Saúde escolar, Higiene escolar, Psicologia escolar, História da psicologia, Fracasso escolar, Medicalização, Patologização

Resumo

A presente pesquisa teve como objetivo investigar a história das explicações das dificuldades de escolarização das crianças das classes populares, em especial a versão que patologiza o fenômeno, através da análise de conteúdo do discurso médico sobre as concepções de higiene pública e de higiene escolar e do papel do médico na escola nas teses inaugurais da Faculdade de Medicina da Bahia na segunda metade do século XIX. Foram submetidas a análise de conteúdo cinco teses que traziam a questão da higiene das escolas em seus títulos e compreendiam o período histórico de 1869 a 1898, ou seja, o período correspondente à passagem do Império para a República. Os resultados dessa análise foram objeto de uma análise contextual, ou seja, foi realizada a sua inserção no momento histórico em que foram produzidos, tendo em vista a interpretação do conteúdo levantado. Verificou-se que as origens históricas da patologização dos problemas de escolarização das crianças das classes populares estão na defesa da importância da medicina para a escola, importância da presença médica nesta instituição e na concepção preconceituosa de povo brasileiro, central nas teorias adotadas pelos médicos. Concluiu-se que nas primeiras teses médicas sobre instituições escolares estão presentes prescrições que vão se concretizar pouco mais tarde na história da educação brasileira, como é o caso da inspeção médica na escola. Trata-se da constituição de um discurso médico sobre a educação que vai ser aprofundado e concretizado em teorias e ações ao longo do século XX.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

Patto MHS. A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia. São Paulo: T.A. Queiroz; 1990.

Collares CAL, Moysés MAA. A transformação do espaço pedagógico em espaço clínico: a patologização da educação. In: Alves ML, coordenador. Cultura e saúde na escola. São Paulo: Fundação para o Desenvolvimento da Educação; 1994. p. 25-31.

Souza MPR, Machado AM, organizadores. Psicologia escolar: em busca de novos rumos. São Paulo: Casa do Psicólogo; 1997.

Moysés MAA. A institucionalização invisível: crianças que não-aprendem-na-escola [tese de livre-docência]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 1998.

Goldenstein MS. A exclusão da escola de 1ºgrau: a perspectiva dos excluídos. São Paulo: Fundação Carlos Chagas; 1986.

Machado AM. Reinventando a avaliação psicológica [tese]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 1996.

Collares C, Moysés MAA. A história nãocontada dos distúrbios de aprendizagem. Cad CEDES. 1992;28:31-48.

Lima GZ. Saúde escolar e educação. São Paulo: Cortez; 1985.

Gondra JG. Silêncios na história da educação no império. In: Vidal DG, Gondra JG, Faria Filho LM, organizadores. Educação, modernidade e civilização: fontes e perspectivas de análises para a história da educação oitocentista. Belo Horizonte: Autêntica; 1998. p. 37-71.

Freire Costa J. Ordem médica e norma familiar. 3ª ed. Rio de Janeiro: Graal; 1989.

Stephanou M. Formar o cidadão física e moralmente: médicos, mestres e crianças na escola elementar. Educ Subj Poder. 1996;3(3):59-66.

Patto MHS. Teoremas e cataplasmas no Brasil monárquico: o caso da medicina social. Novos Estud CEBRAP. 1996;44:180-99.

Gondra JG. Artes de civilizar: medicina, higiene e educação escolar na corte imperial[tese]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 2000.

Schwarcz LM. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil (1870-1930). São Paulo: Companhia das Letras; 1993.

Bardin L. Análise de conteúdo. Rio de Janeiro: Edições 70; 1977.

Silva FP. Hygiene dos collegios [tese]. Salvador: Faculdade de Medicina da Bahia;1869.

Collet AG. Hygiene escholar [tese]. Salvador: Faculdade de Medicina da Bahia; 1885.

Marques UHM. Hygiene pedagógica [tese]. Salvador: Faculdade de Medicina da Bahia; 1886.

Lobo FCS. Apontamentos para o estudo da hygiene escholar [tese]. Salvador: Faculdade de Medicina da Bahia; 1895.

Patury JL. Hygiene escolar [tese]. Salvador: Faculdade de Medicina da Bahia; 1898.

Werebe MJG. A educação. In: Buarque de Holanda S, organizador. História geral da civilização brasileira. São Paulo: Difel; 1986.

Nunes AA. Educação na Bahia no século XIX: algumas considerações. Rev Inst Geogr Hist Bahia. 1997;93:165-203.

Tavares LHD. História da Bahia. 10ª ed. São Paulo: UNESP; Salvador: EDUFBA; 2001.

Cruz Costa J. Pequena história da República. São Paulo: Braziliense: CNPq; 1988.

Buarque de Holanda S. Raízes do Brasil. 15ªed. Rio de Janeiro: José Olympio; 1982.

Patto MHS. Estado, ciência e política na Primeira República: a desqualificação dos pobres. Estud Av. 1999;35(13):167-98.

Downloads

Publicado

2007-04-01

Edição

Seção

Pesquisa Original