Perder o apetite. A recusa do outro como busca de si mesmo. Exemplos saharianos, japoneses e franceses
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v28i1p115-133Palavras-chave:
isolamento social, anorexia, adolescência, corpo, masculino/femininoResumo
Esta reflexão antropológica baseia-se em pesquisas realizadas com jovens de 13 a 25 anos de idade, que permanecem isolados no seu quarto. Sua imobilidade, que não se justifica por nenhuma deficiência física ou psicológica, questiona o lugar do corpo no momento da passagem para a vida adulta. Estes jovens expressam uma ausência de apetite do outro, que vai de mãos dadas com a abstinência sexual forçada pelo seu isolamento. A hipótese é que eles experimentam uma relação com seu corpo, sua identidade sexual - e sua sexualidade - assim como com a alimentação, comparável às adolescentes que sofrem de anorexia nervosa, mas ao contrário. Estes comportamentos questionam as relações de gênero e a distribuição de papéis dentro da família. Com base em entrevistas e observações, tanto em casa como nos centros de cuidados, este artigo mostra que estes corpos adolescentes, tornados invisíveis por confinamento ou magreza extrema, são paradoxalmente uma expressão ostensiva de despossessão de si. Um novo apetite é possível quando surge o desejo de diferenciação e permite-se novos encontros.
Downloads
Referências
Bloch, M. (2010). Commensalité et empoisonnement. La pensée de midi, 1 (30), 81-89. Doi: https://doi.org/10.3917/lpm.030.0081
Bonnin, Ph. (2000). Dispositifs et rituels du seuil. Une topologie sociale: détour japonais. Communications, 70, 65-92. Doi: https://doi.org/10.3406/comm.2000.2064
Bonte, P. (1994). Manière de dire ou manière de faire. Peut-on parler d’un mariage arabe ? In P. Bonte (Org.), Epouser au plus proche.Inceste, prohibitions et stratégies matrimoniales autour de la Méditerranée (pp. 371-398). Paris: EHESS.
Claudot-Hawad, H. & Camps, G. (1996). Ehen (pl. Ihanan). In Salem Ch. (Org.), Encyclopédie berbère, 17 (pp. 2591-2595). Aix-en Provence: Peeters Publishers. Doi: https://doi.org/10.4000/encyclopedieberbere.2131
Diasio, N. (2014). Alimentation, corps et transmission familiale à l'adolescence , Recherches familiales, 11 (1), 31-41. Doi : https://doi.org/10.3917/rf.011.0031
Diasio, N. (2017). Domesticating instability and learning new body care: an ethnographic analysis of cleanness practice on the shold of adolescence (France and Italy). Italian journal of sociology of education, 9 (3), 122-155. Doi : http://ijse.padovauniversitypress.it/2017/3/6
Fansten, M., Figueiredo, C., Pionné-Dax, N. & Vellut, N. (Orgs.). (2014). Hikikomori. Ces adolescents en retrait. Paris: Armand Colin. Doi : https://doi.org/10.3917/arco.fanst.2014.01
Fassin, D. & Memmi, D. (Orgs.). (2004). Le gouvernement des corps. Paris: EHESS.
Figueiredo, C. (2013). Histoires de renoncement? Le cas des jeunes retirants sociaux touaregs au Mali. Enfance et psy, 58 (1), 130-139. Doi : https://doi.org/10.3917/ep.058.0130
Figueiredo, C. (2019a). Le corps adolescent face à la souffrance psychique: enjeux individuels, sociaux et politiques de l’hospitalisation en pédopsychiatrie. Enfances, famille, générations, (23). Doi : https://doi.org/10.7202/1067813ar
Figueiredo, C. (2019b). Une nouvelle forme de renoncement. Le corps en retrait des jeunes hikikomori (retirants sociaux) en France et au Japon. Ateliers d’anthropologie, 46. Doi: https://doi.org/10.4000/ateliers.11419.
Gilligan, C. (1982). In a Different Voice: Psychological Theory and Women’s Development. Cambridge: Harvard University Press.
Godelier, M. (2007). Au fondement des sociétés humaines. Paris: Albin Michel.
Héritier, F. (2003). Une anthropologie symbolique du corps. Journal des africanistes, 73 (2), 9-26. Doi: https://doi.org/10.3406/ahess.2002.280024
Héritier, F. (1995). Les deux sœurs et leur mère. Anthropologie de l’inceste, Paris: Odile Jacob.
Héritier, F. (1996). Masculin/féminin. Paris: Odile Jacob.
Melville, H. (1996) Bartleby le scribe. Paris : Gallimard.
Ostermann G. & Combe C. (2012). L'anorexie: la violence paradoxale d’un corps en trop. In A. Joyce (Org.), Violences chaudes, violences froides (pp. 85-102). Toulouse: ERES. Doi: https://doi.org/10.3917/eres.joyce.2012.01.0085
Racamier, P. C. (2010). L’inceste et l’incestuel. Paris: Dunod.
Saito, T. (2013). Hikikomori. Adolescence Without End. Minneapolis: University of Minnesota Press. (Trabalho original publicado em 1998).
Tajan, N. (2017). Génération hikikomori. Paris: L’Harmattan.
Tinat, K. (2019). Las bocas útiles. México: El Colegio de México.
Van Gennep, A. (1909), Les rites de passage.Paris : Ed. Nourry.
Vellut, N., Martin, C., Figueiredo, C. & Fansten, M. (Orgs). (2021). Hikikomori. Une expérience de confinement. Paris: Presses de l’EHESP. Doi : https://doi.org/10.3917/ehesp.vellu.2021.01
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 Cristina Figueiredo

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
O envio dos manuscritos deverá ser acompanhado de Carta à Comissão Executiva solicitando a publicação. Na carta, o(s) autor(es) deve(m) informar eventuais conflitos de interesse - profissionais, financeiros e benefícios diretos ou indiretos - que possam vir a influenciar os resultados da pesquisa. Devem, ainda, revelar as fontes de financiamento envolvidas no trabalho, bem como garantir a privacidade e o anonimato das pessoas envolvidas. Portanto, o(s) autor(es) deve(m) informar os procedimentos da aprovação da pesquisa pelo Comitê de Ética da instituição do(s) pesquisador(es) com o número do parecer.
O material deve ser acompanhado também de uma Declaração de Direito Autoral assinada por todo(s) o(s) autor(es) atestando o ineditismo do trabalho, conforme o seguinte modelo:
Eu, Rinaldo Voltolini, concedo à revista o direito de primeira publicação e declaro que o artigo intitulado Sobre uma política de acolhimento de professores em situação de inclusão, apresentado para publicação na revista Estilos da Clínica, não foi publicado ou apresentado para avaliação e publicação em nenhuma outra revista ou livro, sendo, portanto, original.