ENCERRADO: Chamada de trabalhos – vol. 17 n. 2 (2021) – dossiê temático "A Semiótica e a cultura"

2020-05-07

Chamada de trabalhos – vol. 17 n. 2 (2021) – dossiê temático "A semiótica e a cultura"

Chamada de trabalhos / Appel à contributions / Convocatoria para publicación

[français ci-dessous / español más abajo]

Orgs.: Mariana Luz Pessoa de Barros (UFSCar) e Verónica Estay Stange (Sciences-Po, Paris)

 

* Data-limite para submissão de artigos e resenhas ao dossiê: 30/11/2020 (* PRORROGAÇÃO ATÉ 20/12/2020)

 

Desde os trabalhos fundadores da semiótica greimasiana, a extensão do princípio de imanência abriu duas grandes linhas de pesquisa que parecem marcar as reflexões contemporâneas: a linha fenomenológica e a linha que podemos chamar praxeológica. Esta última se centra nas práticas e trocas comunicativas que estruturam as comunidades de pertencimento. Para desenvolver essas duas orientações – contidas em germe nas reflexões de A. J. Greimas –, foi necessário convocar noções provenientes do uso corrente ou de outros domínios de especialidade, (re)definindo-as, aprofundando-as e conceitualizando-as a fim de determinar seu lugar e sua função na teoria semiótica. Esse foi o caso, na virada fenomenológica, de termos como “percepção”, “corpo” ou “atividade somática” e, na virada praxeológica, de termos como “justeza” (Bertrand), “ajustamento”, “contágio” (Landowski), ou “forma de vida” (Fontanille). O presente número da revista Estudos Semióticos, dedicado à noção de “cultura”, orienta-se na mesma direção: já que esse termo, tão vago quanto polissêmico, é comumente utilizado no nosso domínio (como em diversos outros) em relação a este ou aquele objeto, é possível semiotizá-lo para que se integre à metalinguagem? A semiótica precisa, de fato, dessa ferramenta conceitual? Se a resposta for negativa, qual é, então, a especificidade dos termos dos quais ela dispõe para dar conta do objeto recoberto por “cultura”?

O próprio Saussure (1916) considerava a “semiologia” como “o estudo da vida dos signos no seio da vida social” e, ao retomarmos as primeiras reflexões propriamente semióticas, constatamos a centralidade conferida ao estudo da cultura ou das culturas: “A universalidade da cultura e as especificidades culturais constituem uma das metas da teoria semiótica que busca atingi-las e analisá-las sistematicamente através da diversidade das semióticas apreensíveis como axiologias ou como ideologias, e definíveis como modelos de ação e de manipulação” (Greimas; Courtès, 1979, verbete “sociossemiótica”). No entanto, observamos também uma grande dificuldade de estabelecer uma definição precisa do termo, que foi muitas vezes deixado de lado para dar lugar a outros, como “universo semântico”, “universo social”, “conotação social” e, mais tarde, “forma de vida”.

Apesar da instabilidade conceitual da noção de “cultura”, seu estudo semiótico se desenvolveu a partir de dois grandes paradigmas: aquele que, recorrendo à antropologia, fundamenta-se sobre as categorias natureza/cultura, e aquele que, seguindo as proposições de Yuri Lotman acerca do que chamamos propriamente “semiótica da cultura”, está assentado nas categorias “a-significância”/cultura.

O primeiro paradigma, que está em relação estreita com a antropologia de Lévi-Strauss, baseia-se no postulado semiótico fundamental segundo o qual a categoria natureza/cultura é culturalmente determinada. Assim, ambos os termos são considerados como universos semióticos, sendo que essa “natureza” inevitavelmente “culturalizada” remete ao que entendemos por “semiótica do mundo natural” – um mundo estruturado como linguagem. Nessa perspectiva, os trabalhos de Philippe Descola (2005) – que, a partir de uma tipologia das formas de relação entre si mesmo e o outro, questionam o enfoque de Lévi-Strauss –, convidam a (re)interrogar as fronteiras semióticas entre natureza e cultura, assim como “os limites de validade dos movimentos de generalização que [a semiótica] opera” (Fontanille; Couégnas, 2018). Mesmo contestando a posição lévi-straussiana frente ao que considera um excesso de abstração e de distância em relação à experiência de campo, Clifford Geertz também confirma a ligação entre semiótica e antropologia, ao definir esta última como uma “interpretação das interpretações”, como “essas teias [de significados] e a sua análise; portanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura do significado” (1989, p. 4). 

Quanto ao segundo paradigma, a oposição entre “a-significância” e cultura fundamenta-se, no âmbito da “semiótica da cultura”, no conceito de “semiosfera”, em contraste com aquele de “biosfera”. Grosso modo, a semiosfera pode ser concebida, por um lado, como um conjunto heterogêneo de formações semióticas que se situam em diferentes níveis de organização e, por outro, como um “grande sistema” no qual convergem os processos comunicativos resultantes de diferentes microssistemas modelizantes (Lotman, 1996). Enquanto a biosfera engloba o conjunto dos organismos vivos, a semiosfera diz respeito ao universo cultural, caracterizando-se pela reflexividade (capacidade de autodescrição). Dentro da semiosfera, mecanismos bilingues garantem, por meio da “tradução”, trocas entre o interior e o exterior. O espaço interior é percebido como ordenado e seguro, já o espaço exterior, inclusive quando ocupado por outras semiosferas, tende a ser considerado como pertencente a outra forma de organização e mesmo, segundo posições radicalizadas, como a negação da “cultura”. Ainda que o espaço interior seja “ordenado”, isso não significa que seja homogêneo. As estruturas nucleares são mais inativas e inertes que aquelas da periferia, extremamente dinâmicas por conta das trocas constantes com o “estrangeiro” exterior. Considerando os trabalhos mais recentes desenvolvidos em semiótica em torno desse paradigma, parece-nos possível tanto aprofundar o estudo dos movimentos que se operam entre núcleo e periferia no âmbito de uma mesma cultura, quanto os processos de tradução intercultural (cf. Lorusso, 2019). Seria necessário ainda continuar a explorar o outro da “cultura” – o “nunca dito”, o “nunca imaginado” (Lancioni, 2005), a “a-significância”, até o “nenhum” (Leone, 2012) –, precisando sua definição e interrogando em que medida pode se tornar objeto de uma sistematização (cf. a “tipologia das inculturas” proposta por Leone, 2012).

Dando prosseguimento aos questionamentos do princípio de imanência em semiótica, aos dois paradigmas evocados – natureza/cultura, a-significância/cultura –, veio somar-se um terceiro, que marca precisamente a virada praxeológica. Ele está fundamentado no estudo da práxis, para além do “universo semântico” que Greimas e Courtés consideravam como coextensivo à noção de “cultura”. De certa maneira, da cultura como texto passamos à cultura como prática. Os termos “estilo” (Discini, 2015), “estilo de vida” (Landowski, 1998) e “forma de vida” (Greimas, 1993) – cuja diferença seria interessante determinar – atestam essa evolução. Em particular, o conceito de “forma de vida”, ao designar princípios de conformação e organização coletivas que remetem a formas de linguagem, permitiu reconhecer a coerência de expressões em princípio heterogêneas, associando-as a conteúdos de ordem narrativa, axiológica ou passional (cf. Fontanille, 2017). Nessa perspectiva, consideramos interessante interrogarmo-nos sobre as relações entre o conceito de “forma de vida” e de “cultura”: seriam equivalentes – nesse caso, o primeiro seria sem dúvida mais operatório por ser menos polissêmico – ou, ainda, há entre os dois diferenças de grau e extensão – a “cultura” pode designar, por exemplo, uma “forma de vida” estabilizada ou um entrecruzamento de formas de vida? Por fim, é possível conceber uma semiótica da cultura (diferente daquela de Lotman), fundada sobre o reconhecimento de “arquiformas de vida” (Colas-Blaise, 2012) que integrariam as formas de vida particulares sobre a base de uma estrutura simbólica comum (cf. Basso, 2017)?

Essas pistas de pesquisa, atreladas a três paradigmas diferentes e complementares, orientam-se em direção à possibilidade de consolidar uma “teoria semiótica da cultura”. Tendo em vista tal objetivo, torna-se evidente a necessidade de estabelecer ou de continuar o diálogo entre nossa disciplina e aquelas que se interessam, de perto ou de longe, pelo mesmo objeto – antropologia social e cultural, etnologia, sociologia, Estudos Culturais, etc. Trata-se, portanto, de identificar suas convergências e divergências do ponto de vista teórico e metodológico, a fim de reconhecer, com maior precisão, a especificidade da semiótica no tratamento das práticas e dos objetos culturais.

O sintagma “semiótica da cultura” convida-nos, entretanto, não somente a interrogar a definição e os pressupostos epistemológicos da noção de cultura, mas também a refletir sobre a maneira como a semiótica pode dar conta desta ou daquela cultura, microcultura, ou subcultura, confrontando suas ferramentas conceituais aos objetos e fenômenos culturais contemporâneos. Pensamos aqui nas práticas cotidianas, aparentemente, mais “banais”, cuja profundidade está ainda à espera de ser revelada (cf. Marsciani, 2017), mas pensamos também nas grandes “crises” da cultura – das violências extremas à pandemia do Covid-19, incluindo os conflitos migratórios e os colapsos econômicos. Ao intensificarem certos traços estruturais do coletivo confrontado à ameaça, esses momentos de crise permitem apreendê-los de maneira “amplificada”. Além disso, ao conduzirem o sistema cultural em direção a um alto grau de “entropia”, oferecem a possibilidade de examinar as mudanças de direção, a emergência de novas formas de organização, assim como os problemas de aprendizado, de apropriação e de transmissão (cf. assuntos tratados no Séminaire de Sémiotique de Paris, em 2014-1917). Sob a forma do “acontecimento” (Zilberberg), do “ acidente” (Landowski) ou da “explosão” (Lotman), esses momentos privilegiados para analisar o funcionamento e as dinâmicas de transformação das práticas culturais, das crenças e das ideologias, constituem também um desafio para os modelos teóricos e metodológicos, que, a partir daí, podem ser revistos, modificados e até mesmo refutados pelos pesquisadores.

Ademais, nos estudos das crises e das fraturas culturais contemporâneas, surge, inevitavelmente, a questão da “justa distância” do semioticista em relação aos objetos que, longe de serem “neutros” a seus próprios olhos, forçam-no a uma tomada de posição. Se a semiótica possui, por definição, uma vocação “crítica” (cf. Marrone, 2017), sua visada objetivante impõe, no entanto, um olhar “distanciado” – espécie de “epoché” epistemológica. Nesse sentido, podemos nos perguntar o que se passa com princípios éticos, como o “engajamento” e a “implicação” (cf. Alonso; Di Sciullo, no prelo), princípios aos quais, atualmente, certas disciplinas – especialmente os Estudos Culturais, com sua vasta ramificação: Post-colonial Studies, Memory Studies, Trauma Studies, etc. – conferem um sentido totalmente político, assumindo-os como regra metodológica.

Em suma, considerando a fecundidade das reflexões sobre a cultura ou sobre as culturas em semiótica, assim como a necessidade de tornar mais precisa a própria noção de cultura, este dossiê temático da revista Estudos Semióticos tem o objetivo de reunir contribuições, teóricas e analíticas, distribuídas em três grandes eixos: 

  • a conceitualização da noção de “cultura”, seu lugar na arquitetura da teoria semiótica e a possibilidade de sua integração à metalinguagem;

  • a atualização das relações entre a semiótica e as outras disciplinas que tratam do estudo da cultura;

  • as análises concretas dos fenômenos culturais contemporâneos (das práticas cotidianas às grandes crises) que possibilitem questionar a eficácia heurística dos modelos existentes e evidenciar as dinâmicas culturais, entre a persistência e a transformação, a perda e a aquisição, a transmissão e a invenção.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

ALONSO, Juan; DI SCIULLO, Flore. anais do Colloque Sémiotique, implication et engagement, Réseau Doctoral Grand Paris Sémiotique RD-GPS, 19-20 outubro 2018, no prelo. 

BASSO, Pierluigi. Vers une sémiotique écologique de la culture. Perception, gestion et réappropriation du sens. Limoges: Lambert-Lucas, 2017.

COLAS-BLAISE, Marion. “Forme de vie et formes de vie”. Actes Sémiotiques [on-line], 115, 2012, acesso em 29/04/2020, URL: https://www.unilim.fr/actes-semiotiques/2631.

DESCOLA, Philippe. Par-delà nature et culture. Paris: Gallimard, 2005.

DISCINI, Norma. Corpo e estilo. São Paulo: Contexto, 2015.

FONTANILLE, Jacques; COUÉGNAS, Nicolas. Terres de sens. Essai d’anthroposémiotique. Limoges: Pulim, 2018.

FONTANILLE, Jacques. Formes de vie. Liège: Presses Universitaires de Liège, 2017. 

GEERTZ, Clifford (1973). A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1989.

GREIMAS, Algirdas Julien; COURTÉS, Joseph. Sémiotique. Dictionnaire raisonné de la théorie du langage. Paris: Hachette, 1979.

GREIMAS, Algirdas Julien. “Le beau geste”. In: FONTANILLE, Jacques (org.). Les formes de vie / Forms of Life, Recherches Sémiotiques - Semiotic Inquiry (RSSI), vol. 13, n° 1-2, 1993.

LANCIONI, Tarcisio. “Appareils de capture. Pour une sémiotique de la culture”. Actes Sémiotiques [on-line], 118, 2015, acesso em 30/04/2020, URL: https://www.unilim.fr/actes-semiotiques/5399.

LANDOWSKI, Éric (1998). Presenças do outro: ensaios de sociossemiótica. São Paulo: Perspectiva, 2002.

LEONE, Massimo. “Semiótica de lo bárbaro: para una tipología de las inculturas”. Signa: revista de la Asociación Española de Semiótica, n° 21, 2012.

LORUSSO, Anna Maria. Sémiotique et culture. In: BIGLARI, Amir (org.). La sémiotique et son autre. Paris: Kimé, 2019.

LOTMAN, Yuri (1984). La semiosfera I. Semiótica de la cultura y del texto. Madrid: Cátedra, 1996. 

MARRONE, Gianfranco. Sémiotique et critique de la culture. Espace, nourriture, nature, objets. Limoges: Pulim, 2017.

MARSCIANI, Francesco. Les arcanes du quotidien. Essais d’ethnosémiotique. Trad. R. Troqe. Limoges: Pulim, 2017.

SAUSSURE, Ferdinand de. Cours de linguistique générale, 1916. 

 

Os autores deverão seguir as instruções da revista para cadastrar-se e enviar os seus artigos. Favor consultar a página : https://www.revistas.usp.br/esse/about/submissions



Appel à contributions – vol. 17 n. 2 (2021) – dossier thématique "La sémiotique et la culture"

[español más abajo] 

Dir.: Mariana Luz Pessoa de Barros (UFSCar) et Verónica Estay Stange (Sciences-Po, Paris) 

 

* Date limite pour la remise des articles et des comptes rendus au dossier: 30/11/2020 

 

Depuis les travaux fondateurs de la sémiotique greimassienne, l’extension du principe d’immanence a ouvert deux grandes voies de recherche qui semblent marquer les réflexions contemporaines : la voie phénoménologique et la voie que nous pouvons appeler praxéologique. Cette dernière est centrée sur les pratiques et les échanges communicatifs qui structurent des communautés d’appartenance. Pour développer ces deux orientations – contenues en germe dans les réflexions d’A. J. Greimas –, il a été nécessaire de faire appel à des notions provenant de l’usage courant ou à d’autres domaines de spécialité, en les (ré)définissant, en les approfondissant et en les conceptualisant afin de déterminer leur statut et leur fonction dans la théorie sémiotique. Ce fut le cas, lors du tournant phénoménologique, de termes comme celui de « perception », de « corps » ou d’« activité somatique » ; et, au sein du tournant praxéologique, de termes tels que « justesse » (Bertrand), « ajustement », « contagion » (Landowski), ou « forme de vie » (Fontanille). Le présent numéro d’Estudos Semióticos, consacré à la notion de « culture », s’oriente dans ce même sens : si ce terme, aussi flou que polysémique, est couramment employé dans notre domaine (comme dans beaucoup d’autres) en rapport avec tel ou tel objet, est-il possible de le sémiotiser afin de l’intégrer au métalangage ? La sémiotique a-t-elle par ailleurs besoin d’un tel outil conceptuel ? Si la réponse est négative, quelle est la spécificité des termes dont elle dispose pour rendre compte de l’objet que celui-là recouvre ?

Saussure lui-même (1916) envisageait la « sémiologie » comme « l’étude de la vie des signes au sein de la vie sociale » ; et, en revenant sur les premières réflexions proprement sémiotiques, on constate le caractère central qui est conféré à l’étude de la culture ou des cultures : « l’universalité de la culture et les spécificités culturelles constituent une des visées de la théorie sémiotique qui cherche à les atteindre et à les analyser systématiquement à travers la diversité des sémiotiques saisissables comme des axiologies, et définissables comme des modèles d’action et de manipulation » (Greimas et Courtés, 1979, entrée « sociosémiotique »). Cependant, on observe en même temps une grande difficulté à établir une définition précise du terme, qui a souvent été écarté au profit d’autres tels qu’« univers sémantique », « univers social », « connotation sociale » et, plus tard, « forme de vie ». 

Malgré ce flottement conceptuel de la notion de « culture », son approche sémiotique s’est développée à partir de deux grands paradigmes : celui qui, faisant appel à l’anthropologie, est fondé sur la catégorie culture/nature, et celui qui, suivant les propositions de Youri Lotman autour de ce qu’on appelle en propre la « sémiotique de la culture », relève de la catégorie culture/« a-signifiance ». 

Concernant le premier paradigme, en rapport étroit avec l’anthropologie de Lévi-Strauss, il repose sur le postulat sémiotique fondamental que la catégorie culture/nature est elle-même culturellement déterminée. L’une et l’autre sont donc considérées comme des univers sémiotiques, cette « nature » inévitablement « culturalisée » renvoyant à ce qu’on appelle la « sémiotique du monde naturel » – un monde structuré lui-même comme un langage. Dans ce cadre, les travaux de Philippe Descola (2005) – qui, à partir d’une typologie des formes de relation entre soi et non-soi, remettent en question l’approche de Lévi-Strauss – invitent à (ré)interroger les frontières sémiotiques entre nature et culture, ainsi que « les limites de validité des mouvements de généralisation que [la sémiotique] opère » (Fontanille et Couégnas, 2018). De son côté, Clifford Geertz – qui questionne également la position lévi-straussienne à cause de ce qu’il considère comme un excès d’abstraction et de distance par rapport à l’expérience de terrain – confirme néanmoins le lien étroit entre sémiotique et anthropologie de la culture lorsqu’il définit cette dernière comme une « interprétation des interprétations » ; comme « ces toiles [de sens] et leur analyse ; donc, non pas comme une science expérimentale en quête de lois, mais comme une science interprétative, en quête de sens » (1989, p. 4).

Quant au deuxième paradigme, l’opposition entre culture et « a-signifiance » au sein de la « sémiotique de la culture » se fonde sur le concept de « sémiosphère », en miroir avec celui de « biosphère ». Grosso modo, la sémiosphère peut être conçue, d’un côté, comme un ensemble hétérogène de formations sémiotiques qui se situent à différents niveaux d’organisation, ou, de l’autre, comme le « grand système » dans lequel convergent les processus communicatifs issus de divers micro-systèmes modélisants (Lotman, 1996). La biosphère englobe l’ensemble des organismes vivants ; la sémiosphère, quant à elle, concerne l’univers culturel, dont le propre est la réflexivité (capacité d’auto-description). Au sein de la sémiosphère, des mécanismes bilingues permettent d’assurer, sous la forme de la « traduction », les échanges entre l’intérieur et l’extérieur. Alors que l’espace intérieur est perçu comme ordonné et sûr, l’espace extérieur, même lorsqu’il est occupé par d’autres sémiosphères, tend à être considéré comme relevant d’un autre ordre d’organisation et même, selon des positions radicalisées, comme une négation de la « culture ». Or, si l’espace intérieur est « ordonné », il n’est pas pour autant homogène. Les structures nucléaires se révèlent plus inactives et inertes que celles de la périphérie, qui sont extrêmement dynamiques en raison de leurs échanges constants avec l’« étranger » extérieur. En considérant les travaux plus récents développés en sémiotique autour de ce paradigme, il nous semble possible d’une part d’approfondir l’étude des mouvements qui s’opèrent entre noyau et périphérie au sein d’une même culture, ainsi que les processus de traduction interculturelle (cf. Lorusso, 2019). D’autre part, il nous paraît nécessaire de continuer à explorer l’autre de la « culture » – le « jamais dit », le « jamais imaginé » (Lancioni, 2005), l’« a-signifiance », voire le « sémio-néant » (Leone, 2012) –, en précisant sa définition et en se demandant dans quelle mesure il est lui-même susceptible de faire l’objet d’une systématisation (cf. la « typologie des incultures » proposée par Leone, id.). 

À la suite des questionnements du principe d’immanence en sémiotique, aux deux paradigmes qu’on vient d’évoquer – culture/nature, culture/a-signifiance – est venu s’ajouter un troisième, qui marque le tournant praxéologique proprement dit. Il est en effet fondé sur l’étude de la praxis, au-delà du seul « univers sémantique » que Greimas et Courtés considéraient comme coextensif à la notion de « culture ». D’une certaine manière, de la culture comme texte on est passé à la culture comme pratique. Les termes de « style » (Discini, 2015), « style de vie » (Landowski, 1998) et « forme de vie » (Greimas, 1993) –dont il serait intéressant de préciser le différences– rendent compte de cette évolution. En particulier, le concept de « forme de vie », désignant des principes de conformation et d’organisation collectives qui renvoient à des formes de langage, a permis de reconnaître la cohérence d’expressions en principe hétérogènes, en les associant à des contenus d’ordre narratif, axiologique ou passionnel (cf. Fontanille, 2017). Dans ce cadre, il est intéressant de s’interroger sur les rapports entre le concept de « forme de vie » et celui de « culture » : sont-ils équivalents – auquel cas le premier est sans doute plus opératoire car moins polysémique –, ou bien y a-t-il entre les deux des différences de degré ou d’extension – la « culture » pouvant désigner par exemple une « forme de vie » stabilisée ou un entrecroisement de formes de vie ? Enfin, est-il possible d’envisager une sémiotique de la culture (différente de celle de Lotman) fondée sur la reconnaissance d’« archi-formes de vie » (Colas-Blaise, 2012) qui intégreraient les formes de vie particulières sur la base d’une structure symbolique commune (cf. Basso, 2017) ? 

Ces pistes de recherche, rattachées à trois paradigmes différents et complémentaires, s’orientent vers la possibilité de consolider une « théorie sémiotique de la culture ». Dans ce même but, elles mettent en évidence la nécessité d’établir ou de poursuivre le dialogue entre notre discipline et celles qui s’intéressent, de près ou de loin, au même objet – anthropologie sociale et culturelle, ethnologie, sociologie, Études Culturelles, etc. Il s’agit donc d’identifier leurs convergences et leurs divergences du point de vue théorique et méthodologique, afin de mieux reconnaître la spécificité de la sémiotique dans l’approche des pratiques et des objets culturels. 

Mais le syntagme « sémiotique et culture » nous invite non seulement à interroger la définition et les présupposés épistémologiques de la notion de culture, mais aussi à réfléchir à la manière dont la sémiotique peut rendre compte de telle ou telle culture, micro-culture, ou sous-culture, en soumettant ses outils conceptuels à l’épreuve des objets et des phénomènes culturels contemporains. Nous pensons aux pratiques quotidiennes en apparence les plus « banales », dont la profondeur est encore en attente d’être révélée (cf. Marsciani, 2017). Mais nous pensons également aux grandes « crises » de la culture – des violences extrêmes à la pandémie du Covid-19 en passant par les conflits migratoires et les effondrements économiques. Intensifiant certains traits structurels du collectif confronté à la menace, ces moments de crise permettent de les appréhender de manière « amplifiée ». Et, conduisant le système culturel vers un haut degré d’« entropie », ils offrent la possibilité d’étudier les changements de direction, l’émergence de nouvelles formes d’organisation, ainsi que les problèmes d’apprentissage, d’appropriation et de transmission (cf. les sujets traités au sein du Séminaire de Sémiotique de Paris en 2014-2017). Que ce soit sous la forme de l’« événement » (Zilberberg), de l’« accident » (Landowski) ou de l’« explosion » (Lotman), ces moments privilégiés pour analyser le fonctionnement et les dynamiques de transformation des pratiques culturelles, des croyances et des idéologies, constituent également un défi pour les modèles théoriques et méthodologiques, que le chercheur peut être amené à réinterroger, à modifier, voire à réfuter. 

Par ailleurs, dans l’approche des crises et des fractures culturelles contemporaines se pose inévitablement la question de la « juste distance » du sémioticien par rapport à des objets qui, loin d’être « neutres » à ses propres yeux, le contraignent à prendre position. Si la sémiotique a par définition une vocation « critique » (cf. Marrone, 2017), sa visée objectivante impose néanmoins un regard « distancé » – sorte d’« épochè » épistémologique. Dans ce cadre, on peut se demander ce qu’il en de principes éthiques comme l’« engagement » et l’« implication » (cf. Alonso et Di Sciullo, à paraître), principes auxquels de nos jours certaines disciplines – notamment les Études Culturelles, avec leur vaste déclinaison : Post-colonial Studies, Memory Studies, Trauma Studies, etc. – confèrent un sens pleinement politique, en les élevant au rang de règle méthodologique. 

En somme, considérant la fécondité de la réflexion sur la culture et sur les cultures en sémiotique, tout comme la nécessité de préciser la notion elle-même, ce dossier thématique de la revue Estudos Semióticos a pour objectif de rassembler des contributions, théoriques et analytiques, autour de trois grands axes : 

  • la conceptualisation de la notion de « culture », son statut dans l’architecture de la théorie sémiotique et la possibilité de son intégration au métalangage ; 

  • la mise à jour des rapports entre la sémiotique et les autres disciplines qui s’occupent de l’étude de la culture ; 

  • des analyses concrètes de phénomènes culturels contemporains (des pratiques quotidiennes aux grandes crises) susceptibles de questionner l’efficacité heuristique des modèles existants et de mettre en évidence les dynamiques culturelles, entre persistance et transformation, perte et acquisition, transmission et invention.  

 

RÉFÉRENCES BIBLIOGRAPHIQUES

Alonso, Juan et Di Sciullo, Flore, actes du Colloque Sémiotique, implication et engagement, Réseau Doctoral Grand Paris Sémiotique RD-GPS, 19-20 octobre 2018, à paraître.

Basso, Pierluigi, Vers une sémiotique écologique de la culture. Perception, gestion et réappropriation du sens, Limoges, Lambert-Lucas, 2017.

Colas-Blaise, Marion, « Forme de vie et formes de vie », Actes Sémiotiques [En ligne], 115, 2012, consulté le 29/04/2020, URL : https://www.unilim.fr/actes-semiotiques/2631

Descola, Philippe, Par-delà nature et culture, Paris, Gallimard, 2005.

Discini, Norma. Corpo e estilo. São Paulo, Contexto, 2015.

Fontanille, Jacques et Couégnas, Nicolas, Terres de sens. Essai d’anthroposémiotique, Pulim, 2018.

Fontanille, Jacques, Formes de vie, Liège, Presses Universitaires de Liège, 2017. 

Geertz, Clifford (1973), A interpretação das culturas, Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1989.

Greimas, Algirdas Julien et Courtés, Joseph, Sémiotique. Dictionnaire raisonné de la théorie du langage, Paris, Hachette, 1979.

Greimas, Algirdas Julien, « Le beau geste », in Jacques Fontanillle (dir.), Les formes de vie / Forms of Life, Recherches Sémiotiques - Semiotic Inquiry (RSSI), vol. 13, n° 1-2, 1993.

Lancioni, Tarcisio, « Appareils de capture. Pour une sémiotique de la culture », Actes Sémiotiques [En ligne], 118, 2015, consulté le 30/04/2020, URL : https://www.unilim.fr/actes-semiotiques/5399

Landowski, Eric (1998), Présences de l’autre. Essais de socio-sémiotique, Paris, PUF, 1998.

Leone, Massimo, « Semiótica de lo bárbaro: para una tipología de las inculturas », Signa: revista de la Asociación Española de Semiótica, n° 21, 2012.

Lorusso, Anna Maria, « Sémiotique et culture », in Amir Biglari (éd.), La sémiotique et son autre, Paris, Kimé, 2019.

Lotman, Yuri (1984), La semiósfera I. Semiótica de la cultura y del texto, Madrid, Cátedra, 1996. 

Marrone, Gianfranco, Sémiotique et critique de la culture. Espace, nourriture, nature, objets, Limoges, Pulim, 2017.

Marsciani, Francesco, Les arcanes du quotidien. Essais d’ethnosémiotique, trad. R. Troqe, Limoges, Pulim, 2017.

Saussure, Ferdinand de, Cours de linguistique générale, 1916.

  

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Convocatoria para publicación – vol. 17 n. 2 (2021) – volumen temático "La semiótica y la cultura" 

Dir.: Mariana Luz Pessoa de Barros (UFSCar) y Verónica Estay Stange (Sciences-Po, Paris) 

 

* La fecha límite de recepción de los artículos es el 30/11/2020 

 

Desde los trabajos fundadores de la semiótica greimasiana, la extensión del principio de inmanencia ha abierto dos grandes líneas de investigación que parecen marcar las reflexiones contemporáneas: la línea fenomenológica y la línea que podemos llamar praxeológica. Esta última está centrada en las prácticas e intercambios comunicativos que estructuran comunidades de afinidad y pertenencia. Para desarrollar estas dos orientaciones –contenidas en germen en las propuestas de A. J. Greimas–, ha sido preciso recurrir a nociones provenientes del uso común o de otros ámbitos de especialidad, (re)definiéndolas, profundizándolas y conceptualizándolas con la finalidad de determinar su estatuto y su función dentro de la teoría semiótica. Tal fue el caso, en el marco del giro fenomenológico, de términos como “percepción”, “cuerpo” o “actividad somática”; y, tras el giro praxeológico, de términos como “justeza” (Bertrand), “ajuste” (Landowski) o “forma de vida” (Fontanille). El presente número de Estudos Semióticos, centrado en la noción de “cultura”, se orienta en el mismo sentido: si este término, tan difuso como polisémico, es con frecuencia utilizado en nuestro ámbito (como en muchos otros) con relación a tal o cual objeto, ¿es posible semiotizarlo para integrarlo al metalenguaje? ¿la semiótica tiene realmente necesidad de esa herramienta conceptual? Si la respuesta es negativa, ¿cuál es la especificidad de los términos de los cuales dispone para dar cuenta del objeto que ese otro recubre?

El propio Saussure (1916) concebía la “semiología” como “el estudio de la vida de los signos en el seno de la vida social”; y, volviendo sobre las primeras reflexiones propiamente semióticas, podemos constatar el carácter central atribuido al estudio de la cultura o de las culturas: “la universalidad de la cultura y las especificidades culturales constituyen uno de los objetivos de la teoría semiótica, que busca aprehenderlas y analizarlas sistemáticamente a través de la diversidad de las semióticas concebibles como axiologías y definibles como modelos de acción y manipulación” (Greimas et Courtés, 1979, entrada “sociosemiótica”). Sin embargo, podemos observar al mismo tiempo la gran dificultad que existe para establecer una definición precisa del término, con frecuencia omitido en provecho de otros tales como “universo semántico”, “universo social”, “connotación social” y, más tarde, “forma de vida”.

A pesar de la nebulosa conceptual que rodea a la noción de “cultura”, su estudio semiótico se desarrolló a partir de dos grandes paradigmas: aquel que, recurriendo a la antropología, está basado en la categoría cultura/naturaleza, y aquel que, siguiendo la propuesta de Yuri Lotman en torno a la “semiótica de la cultura” propiamente dicha, se funda en la categoría cultura/“a-significancia”.

El primer paradigma, en relación estrecha con la antropología de Lévi-Strauss, se basa en el postulado semiótico fundamental según el cual la propia categoría cultura/naturaleza está culturalmente determinada. Una y otra son pues consideradas como universos semióticos, de modo que esa “naturaleza” inevitablemente “culturalizada” remite a lo que se conoce como la “semiótica del mundo natural” –un mundo en sí mismo estructurado como un lenguaje–. En este marco, los trabajos de Philippe Descola (2005) –quien, a partir de una tipología de formas de relación entre sí mismo y el otro, cuestiona el enfoque de Lévi-Strauss– invitan a (re)considerar las fronteras semióticas entre naturaleza y cultura, así como “los límites de la validez de los movimientos de generalización que [la semiótica] opera” (Fontanille y Couégnas, 2018). Por su parte, Clifford Geertz – quien cuestiona igualmente la posición de Lévi-Strauss a causa de lo que él considera como un exceso de abstracción y distancia respecto a la experiencia de terreno – confirma sin embargo el estrecho vínculo existente entre semiótica y antropología de la cultura, definiendo a esta última como una “interpretación de interpretaciones”; como “esas redes [de sentido] y su análisis; por lo tanto, no como una ciencia experimental en busca de leyes, sino como una ciencia interpretativa, en busca de sentido” (1989, p. 4).

En cuanto al segundo paradigma, la oposición entre cultura y “a-significancia” dentro de la “semiótica de la cultura” se basa en el concepto de “semiósfera”, que a su vez se encuentra en relación especular con el de “biósfera”. Grosso modo, la semiósfera puede concebirse ya sea como un conjunto heterogéneo de formaciones semióticas que se sitúan en diferentes niveles de organización, ya sea como el “gran sistema” en el cual convergen los procesos comunicativos que resultan de diversos micro-sistemas modelizantes (Lotman, 1996). Si la biósfera comprende el conjunto de organismos vivos, la semiósfera abarca al universo cultural, caracterizado por la reflexividad (capacidad de auto-descripción). Dentro de la semiósfera, los mecanismos bilingües, encargados de la “traducción”, permiten los intercambios entre el interior y el exterior. Mientras que el espacio interior es percibido como ordenado y seguro, el espacio exterior, aun cuando está ocupado por otras semiósferas, tiende a ser considerado como perteneciente a otro tipo de organización e incluso, en el caso de posiciones radicalizadas, como una negación de la “cultura”. Ahora bien, que el espacio interior sea “ordenado” no implica que sea homogéneo. Las estructuras nucleares son más inactivas e inertes que las de la periferia, extremadamente dinámicas a causa de sus intercambios constantes con el “extranjero” exterior. Considerando los trabajos semióticos más recientes desarrollados en torno a este paradigma, nos parece posible profundizar en el estudio de los movimientos que se operan entre centro y periferia en el marco de una misma cultura, así como en los procesos de traducción intercultural (cf. Lorusso, 2019). Asimismo, consideramos necesario seguir explorando el otro de la “cultura” –lo “nunca dicho”, lo “nunca imaginado” (Lancioni, 2005), la “a-significancia” o incluso la “semio-nada” (Leone, 2012)–, precisando su definición y preguntándose en qué medida puede ser sistematizado (cf. la “tipología de las inculturas” propuesta por Leone, id.).

Tras el cuestionamiento del principio de inmanencia en semiótica, a los dos paradigmas citados –cultura/naturaleza, cultura/a-significancia– se sumó un tercero, que marca el giro praxeológico propiamente dicho. En efecto, este último paradigma está basado en el estudio de la praxis, más allá del solo “universo semántico” que Greimas y Courtés consideraban como coextensivo a la noción de “cultura”. En cierta forma, de la cultura como texto pasamos a la cultura como práctica. Los términos de “estilo” (Discini, 2015), “estilo de vida” (Landowski, 2007) y “forma de vida” (Greimas, 1993) –cuyas diferencias sería interesante precisar– dan cuenta de esta evolución. En particular, el concepto de “forma de vida”, que designa principios de conformación y de organización colectivas que remiten a formas de lenguaje, permitió reconocer la coherencia de expresiones en principio heterogéneas, asociándolas a contenidos de orden narrativo, axiológico o pasional (cf. Fontanille, 2017). En este marco, nos parece interesante cuestionar la relación entre los conceptos de “forma de vida” y de “cultura”: ¿son equivalentes –en cuyo caso el primero sería sin duda más operacional puesto que menos polisémico–, o bien hay entre ellos diferencias de grado o de extensión –en cuyo caso la “cultura” podría designar por ejemplo una “forma de vida” estabilizada o un entrecruzamiento de formas de vida–? En fin, ¿es posible concebir una semiótica de la cultura (distinta a la de Lotman) basada en el reconocimiento de “archi-formas de vida” (Colas-Blaise, 2012) que integrarían formas de vida particulares sobre la base de una estructura simbólica común (cf. Basso, 2017)? 

Estas pistas de investigación, que remiten a tres paradigmas distintos y complementarios, se orientan hacia la posibilidad de consolidar una “teoría semiótica de la cultura”. Con este objetivo, se hace evidente la necesidad de establecer o prolongar el diálogo entre nuestra disciplina y aquellas que se interesan, de cerca o de lejos, al mismo objeto –antropología social y cultural, etnología, sociología, Estudios Culturales, etc.–. Se trata pues de reconocer sus convergencias y divergencias desde el punto de vista teórico y metodológico, con la finalidad de determinar la especificidad de la semiótica en la aprehensión de las prácticas y los objetos culturales.

Pero el sintagma “semiótica y cultura” nos invita no solo a interrogar la definición y los fundamentos epistemológicos de la noción de cultura, sino también a pensar el modo en que la semiótica puede dar cuenta de tal o cual cultura, micro-cultura o sub-cultura, confrontando sus herramientas conceptuales a los objetos y fenómenos culturales contemporáneos. Pensamos por ejemplo en las prácticas cotidianas en apariencia más “banales”, cuya profundidad está en espera de ser revelada (cf. Marsciani, 2017). Pero pensamos también en las grandes “crisis” de la cultura –de las violencias extremas a la pandemia del Covid-19, pasando por los grandes conflictos migratorios y los derrumbes económicos–. Estos momentos de crisis intensifican ciertos rasgos culturales de la colectividad confrontada a la amenaza, permitiendo aprehenderlos de manera “amplificada”. Asimismo, ya que en tales circunstancias el sistema cultural es llevado hacia un alto grado de “entropía”, se abre entonces la posibilidad de estudiar “en directo” los cambios de dirección, la emergencia de nuevas formas de organización, así como los problemas de aprendizaje, apropiación y transmisión (cf. los temas abordados en el Seminario de Semiótica de París entre 2014 y 2017). Bajo la forma del “acontecimiento” (Zilberberg), del “accidente” (Landowski) o de la “explosión” (Lotman), estos momentos privilegiados para el análisis del funcionamiento y las dinámicas de transformación de las prácticas culturales, las creencias y las ideologías, constituyen también un desafío para los modelos teóricos y metodológicos, que el investigador puede verse obligado a cuestionar, modificar e incluso refutar.

Por otra parte, en el estudio de las crisis y fracturas culturales contemporáneas se plantea inevitablemente el problema de la “justa distancia” del semiotista en relación con objetos que, lejos de ser “neutros” a sus propios ojos, lo instan a tomar posición. Si bien la semiótica tiene por definición una vocación “crítica” (cf. Marrone, 2017), su ambición objetivante exige adoptar una mirada “distanciada” –suerte de “epoché” epistemológica–. En este marco, podemos preguntarnos qué ocurre con principios éticos como el “compromiso” y la “implicación” (cf. Alonso et Di Sciullo, à paraître); principios a los que hoy en día ciertas disciplinas –en particular los Estudios Culturales, con su vasta declinación: Post-colonial Studies, Memory Studies, Trauma Studies, etc.– atribuyen un sentido propiamente político, elevándolos al rango de regla metodológica. 

En suma, considerando la fecundidad de la reflexión sobre la cultura y las culturas en semiótica, así como la necesidad de precisar la noción en sí misma, este volumen temático de la revista Estudos Semióticos tiene por objetivo reunir contribuciones, teóricas y analíticas, en torno a tres grandes ejes: 

  • la conceptualización de la noción de “cultura”, su lugar y su función en la arquitectura de la teoría semiótica y la posibilidad de su integración al metalenguaje;

  • la actualización de las relaciones entre la semiótica y las otras disciplinas que se ocupan del estudio de la cultura;

  • el desarrollo de análisis concretos de fenómenos culturales contemporáneos (desde las prácticas cotidianas hasta las grandes crisis) que permitan cuestionar el valor heurístico de los modelos existentes, poniendo al mismo tiempo en evidencia las dinámicas culturales, entre persistencia y transformación, pérdida y adquisición, transmisión e invención.

 

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

Alonso, Juan y Di Sciullo, Flore, actas del Coloquio Sémiotique, implication et engagement, Réseau Doctoral Grand Paris Sémiotique RD-GPS, 19-20 octubre de 2018, en vías de publicación.

Basso, Pierluigi, Vers une sémiotique écologique de la culture. Perception, gestion et réappropriation du sens, Limoges, Lambert-Lucas, 2017.

Colas-Blaise, Marion, « Forme de vie et formes de vie », Actes Sémiotiques [En línea], 115, 2012, consultado el 29/04/2020, URL : https://www.unilim.fr/actes-semiotiques/2631

Descola, Philippe, Par-delà nature et culture, París, Gallimard, 2005.

Discini, Norma. Corpo e estilo. São Paulo, Contexto, 2015.

Fontanille, Jacques y Couégnas, Nicolas, Terres de sens. Essai d’anthroposémiotique, Pulim, 2018.

Fontanille, Jacques, Formes de vie, Lieja, Presses Universitaires de Liège, 2017. 

Geertz, Clifford (1973), A interpretação das culturas, Río de Janeiro, Guanabara Koogan, 1989.

Greimas, Algirdas Julien et Courtés, Joseph, Sémiotique. Dictionnaire raisonné de la théorie du langage, París, Hachette, 1979.

Greimas, Algirdas Julien, « Le beau geste », in Jacques Fontanillle (dir.), Les formes de vie / Forms of Life, Recherches Sémiotiques - Semiotic Inquiry (RSSI), vol. 13, n° 1-2, 1993.

Lancioni, Tarcisio, « Appareils de capture. Pour une sémiotique de la culture », Actes Sémiotiques [En línea], 118, 2015, consultado el 30/04/2020, URL : https://www.unilim.fr/actes-semiotiques/5399

Landowski, Eric (1998), Presencias del otro. Ensayos de sociosemiótica, Lima, Universidad de Lima, 2007.

Leone, Massimo, « Semiótica de lo bárbaro: para una tipología de las inculturas », Signa: revista de la Asociación Española de Semiótica, n° 21, 2012.

Lorusso, Anna Maria, « Sémiotique et culture », en Amir Biglari (ed.), La sémiotique et son autre, París, Kimé, 2019.

Lotman, Yuri (1984), La semiósfera I. Semiótica de la cultura y del texto, Madrid, Cátedra, 1996. 

Marrone, Gianfranco, Sémiotique et critique de la culture. Espace, nourriture, nature, objets, Limoges, Pulim, 2017.

Marsciani, Francesco, Les arcanes du quotidien. Essais d’ethnosémiotique, trad. R. Troqe, Limoges, Pulim, 2017.

Saussure, Ferdinand de, Curso de lingüística general, 1916. 

 

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