Promoção da saúde

Resumo

Esta nova edição de Estudos Avançados mantém sua tradição de abordar temas de relevância social e de inquestionável atualidade, aliando a comunicação de resultados de pesquisa ao debate público, para audiências acadêmicas ou não, tanto quanto às possibilidades de influenciar a formulação e implementação de políticas governamentais voltadas para a superação de problemas que afetam a qualidade de vida e a redução das desigualdades sociais na sociedade. Este número 109 contempla três dossiês: Promoção da saúde, Segurança alimentar e Cidades e tecnologias.

No primeiro dossiê, Promoção da saúde é um campo vasto e complexo,¹ abriga diferentes questões para as quais contribuem pesquisadores de distintas disciplinas científicas e supõe mesmo diferentes interpretações, incluídos os sentidos do bem viver. As relações entre saúde cardiovascular e condições de vida, segundo diferentes tipos de habitação, representa um dos retratos por meio dos quais as desigualdades se manifestam em uma metrópole como São Paulo. Criterioso estudo com residentes do município, segundo faixa etária, sexo, e de acordo com o tipo de assentamento, revelou maior desvantagem no tocante à saúde cardiovascular entre habitantes de assentamentos precários, consideradas a proporção de internações assim como a de óbitos. Na mesma direção, outro estudo questiona a restrição ou proibição de recursos de saúde em questões habitacionais, não obstante haja entendimento comum nos meios técnicos e acadêmicos das relações causais ou existência de correlações entre habitação precária e ocorrência de patologias físicas e mentais. Completa essa linha de raciocínio artigo que aborda desafios propostos pela intervenção em territórios periféricos caracterizados por múltiplas condições de vulnerabilidade.

Ainda neste dossiê, exploram-se discursos da puericultura, da psicologia educacional e da pedagogia, veiculados em livros publicados no Brasil entre 1930 e 1980, que tratam do desenvolvimento da criança em suas conexões com a ideia de progresso social. Questão não menos importante e atual diz respeito aos problemas decorrentes da convivência em um mesmo território, sobretudo nos bairros que compõem as periferias urbanas, de Unidades de Saúde e o tráfico local de drogas. Conclui o dossiê instigante estudo que estabelece relações entre ciclovias e o efeito protetor da prática de atividades físicas em doenças como hipertensão arterial.

O segundo dossiê focaliza a Segurança alimentar, explorando questões como as conexões entre pesquisa, serviços e políticas públicas de combate à fome, dificuldades na produção da agricultura urbana, o alimento como mediador de redes territoriais que encadeiam o circuito produção-comercialização, influências dos flexitarianos na redução do consumo de carne no Brasil.

O dossiê Cidades e tecnologias igualmente trata de temas da maior relevância para o mundo urbano contemporâneo. Mudanças climáticas e prevenção a desastres na cidade de São Paulo, fixadas por meio de legislação municipal em 2009 cuja efetividade em termos de política pública é objeto de criteriosa análise quanto aos avanços e desafios ainda presentes em 2019. O papel do município no Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, suas dificuldades e fragilidades, revela tema de urgência ambiental e política. A integração das Soluções baseadas na Natureza na revitalização de áreas urbanas subutilizadas e degradadas é outro tema em destaque. Sempre na ordem do dia é a reflexão a respeito das intervenções de novas tecnologias, no uso massivo de informações, de algoritmos e de equipamentos eletrônicos para a gestão e a governança urbanas. A propósito, a gestão competente de informações censitárias é objeto de artigo que explora as estratégias desenvolvidas pelo IBGE para implementar o Censo Demográfico de 2020. Por fim, a genealogia do urbanismo no Brasil é examinada à luz das ideias do filósofo francês Michel Foucault.