O corpo-escrito e o corpo-lido de (e por) Franz Kafka
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1984-1124.i28p275-288Palavras-chave:
Franz Kafka, corpo, escrita, voz, comunicação, (re)integraçãoResumo
Da leitura da papelada que Franz Kafka deixou, um peculiar corpo se revela. Premido pelo que entendeu como o seu destino literário, ele engendrou para si mesmo, por meio da escrita, uma existência poética ao transformar os seus mundos interno e externo em um corpo escrito. Assim como outros que dedicaram suas vidas à arte, Kafka também manteve sua retórica de clausura, mas não há dúvida de que se valeu do mundo externo para nutrir o interno e elegeu a escrita para registrar a constituição de ambos que, fixados graficamente, compõem um corpo escritural que é dado a circular através da leitura. Nessa conjuntura, corpo-escrito e corpo-lido integram o desejo muito íntimo do autor de dar uma feição ideal ao seu próprio “eu”, de dar voz a uma existência que se sentia coagida ao silêncio e a encenar, por meios não tão óbvios, uma comunicação que se perdura no tempo. É recorrendo especialmente aos seus escritos íntimos, como as cartas e os diários, que este artigo pretende demonstrar que confinamento, escrita, leitura e comunicação compõem uma mesma estratégia de fazer circular o seu corpo escritural e, consequentemente, a sua existência, (re)integrando-o a um mundo do qual desde muito cedo sentiu-se apartado.
Palavras-chave: corpo; existência; escrita; voz; comunicação; (re)integração.
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