"Mornas eram as noites" e "Mulheres Sagradas": uma travessia transatlântica entre Dina Salústio e Aidil Araújo Lima
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1984-1124.i27p72-94Palavras-chave:
Literatura de autoria feminina negra, Racismo, Escrevivência, Literatura de resistência, CorpoResumo
O presente artigo propõe uma leitura analítica das obras Mulheres Sagradas da brasileira Aidil Araújo Lima e Mornas eram as noites, da cabo-verdiana Dina Salústio. O objetivo é propor um diálogo entre essas duas escritoras negras. A fundamentação parte da noção de ‘escrevivência’ proposta por Conceição Evaristo, além de proposições teóricas sobre a literatura de autoria feminina negra. Há temas recorrentes nas narrativas das escritoras: as violências contra as mulheres, o insistente silenciamento imposto pelo machismo e pelos racismos cotidiano e estrutural. No entanto, essas narrativas propõem o enfrentamento, a quebra dessa estrutura marcada de poder e de subserviência. Seja pelo reconhecimento da ancestralidade ou do corpo como voz-escrita, essas escritoras colocam no jogo discursivo a percepção da própria subjetividade. Evidenciam um corpo-mulher marcado por insurreições e questionamentos ao se posicionarem como útero-sexo-política-discurso-poder. Além disso, as autoras dialogam com as vozes crioulas, ancestrais, sagradas e com outras vozes de mulheres irmãs, que questionam a condição da mulher na sociedade e realocam a escrita e o corpo de autoria feminina negra no cenário da literatura.
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