CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DO PROBLEMA DA SÍFILIS NA CAPITAL DE SÃO PAULO
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2358-792X.v5i1-2p1-88Resumo
I - A sífilis por varias razões, merece um destaque especial no estudo das doenças venéreas, as quais constituo em um importante problema de saúde pública. Para o estabelecimento de um programa de contrôle da sífilis, em uma região, se faz necessário o conhecimento das taxas de incidência e prevalência dessa moléstia. No entanto, nem São Paulo nem o resto do Brasil apresentam dados precisos sôbre a frequência da sífilis na população.II - O inquérito sorológico feito em massa é um dos melhores processos para o estudo da prevalência da sífilis em uma população, mesmo levando em conta as suas diversas causas de êrro. III - O problema da sífilis ,na Indústria é considerado como sendo dos mais relevantes pelo contingente de· horas perdidas de trabalho e pelo número de pensões e aposentadorias que essa moléstia acarreta. Em São Paulo, cidade industrial por excelência, o estudo da sífilis entre os operários é de importância indiscutível. IV - Um estudo realizado entre 1950-1951, na capital paulista, revelou uma taxa de positividade das reações soro lógicas em 3,81% dos 20.892 operários examinados. V - Foi confirmada a impressão de que a taxa de positividade aumenta, de maneira mais acentuada, até cêrca dos 30 anos de idade permanecendo mais ou menos estável até cêrca dos 60 anos, para diminuir em seguida. VI - Os operários do sexo masculino apresentaram taxa de positividade das reações sorológicas mais elevada do que o sexo feminino. VII - Os operários brancos apresentaram taxa de positividade mais baixa do que a observada entre os pardos e pretos. VIII - Entre os operários casados a percentagem de. reações positivas para a sífilis foi mais elevada do que a encontrada entre os solteiros. Os operários casados, do sexo masculino, apresentam taxa mais elevada do que os solteiros (x2 = 12,52, significante ao nível de 5%). Os operários casados, do sexo feminino, apresentaram taxa mais elevada do que os solteiros (x2 = 50,71 , significante ao nível de 5'%). IX - Não foi constatada diferença significante para a taxa de positividade das reações, entre os operários casados e viúvos. Para os operários casados e viúvos, do sexo masculino, x2 foi igual a 3,84, e para o sexo feminino x: = 0,90. X - Foi observada uma taxa de reações .positivas mais elevada entre os operários nacionais do que entre os estrangeiros. Para os operários do sexo masculino, brasil ei ros e estrangeiros, x2 foi igual a 50,71, e para aquêles do sexo feminino , brasileiros e estrangeiros, x2 apresentou o valor de 6,63 significante ao nível de 5%. XI - Parece existir uma relação entre o fator educacional ou cultural e a taxa de incidência e prevalência da sífilis. Todos os autores concordam que a percentagem de sífilis entre os estudantes é baixa. Um estudo realizado através das fichas dos estudantes da Universidade de São Paulo, matriculados no Centro de Aprendizado da Faculdade de Higiene e Saúde Pública, revelou o seguinte: Em 748 estudantes do sexo masculino, examinados em 1949, foram encontradas 4,3% de reações positivas para a sífilis. Em 1.164 reações sorológicas de universitários realizadas em 1950, foram observados 2,2% de resultados positivos. XII - Um inquérito sorológico realizado em setembro de 1951 entre soldados da Fôrça Pública de São Paulo revelou o seguinte: Entre 257 soldados do Batalhão de Guardas foi observada uma taxa de 8,71% de reações pos itivas; e 17,5% entre 165 soldados do Regimento de Cavalaria. XIII - Segundo estudos realizados em presídios de varias partes do mundo, os presidiários costumam apresentar taxas de sífilis bastante elevadas. Analisando as fichas de 1.121 prisioneiros da Penitenciária do Estado de São Paulo encontramos 32,0% de reações soro lógicas positivas para a sífilis. XIV - A capital de São Paulo, apesar de estar incluída entre as grandes cidades do mundo, apresenta um espetáculo degradante, com uma zona de meretrício como raramente se encontra em centros civilizados. em inquérito sorológico realizado entre 1.000 prostitutas da zona do meretrício do Bom Retiro, em 1948, apresentava a taxa de 83,6% de reações positivas para a sífilis. Repetido o inquérito em 1951, foi observada uma taxa de 35,3% de positividade. O uso frequente da penicilina pelas prostitutas foi considerado como sendo um dos principais fatôres pela diminuição da taxa de positividade da sífilis entre essas mulheres. Foi recomendada, como medida de emergência em relação às meretrizes do Bom Retiro, uma intensa campanha sanitária entre essas mulheres, além do tratamento gratuito no Posto Anti-Venéreo do Departamento de Saúde, à rua Carmo Cintra. A medida ideal , no entanto, seria a repressão da prostituição em tôdas as suas formas. XV - As taxas de incidência e prevalência da sífilis estão caindo, nas várias partes do mundo onde o seu estudo tem sido realizado. Alguns autores acham que é prematuro o otim ismo dos sanitaristas em re lação à possibilidade de uma fácil erradicação dessa moléstia no seio da população.A capital de São Paulo, segundo alguns estudos comparativos, observa-se diminuição da taxa de prevalência da sífilis em cer tos grupos sociais. XVI - As taxas de positividade das reações sorológicas para diagnóstico da sífilis, encontradas em alguns grupos da população paulistana não são, de uma maneira geral, elevadas. Considerada a situação econômica e educacional do grupo operário examinado no presente trabalho, a taxa de 3,8'º, observada,é baixa. No entanto, índices mais elevados parecem existi r em outras regiões, como sugerem os dados encontrados entre imigrantes do norte e nordeste do país. XVII - O portador de sífilis e outras doenças venéreas, encarado sob o ponto de vista psicológico, apresenta um problema importante para o sanitarista. No entanto, o aspecto psicológico das doenças venéreas nunca é levado em conta nas campanhas contra tais doenças, o que constitui uma falha muito grande, segundo os venereologistas e psiquiatras modernos.Downloads
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Publicado
1951-12-01
Edição
Seção
Não Definida
Como Citar
Barros, J. M. de. (1951). CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DO PROBLEMA DA SÍFILIS NA CAPITAL DE SÃO PAULO. Arquivos Da Faculdade De Higiene E Saúde Pública Da Universidade De São Paulo, 5(1-2), 1-88. https://doi.org/10.11606/issn.2358-792X.v5i1-2p1-88