Pela metade: implicações do dispositivo médico-criminal da “Nova” Lei de Drogas na cidade de São Paulo

Autores

  • Marcelo da Silveira Campos Universidade Federal da Grande Dourados
  • Marcos César Alvarez Universidade de São Paulo. Departamento de Sociologia

DOI:

https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2017.127567

Palavras-chave:

Lei de Drogas, Série temporal, Sistema de justiça criminal, Tráfico de drogas, Uso de drogas, Crime.

Resumo

Este texto aborda as implicações da atual lei de drogas no Brasil, analisada como um dispositivo de poder médico-criminal. A análise está voltada, mais especificamente, para algumas implicações da lei n. 11 343 de 2006 – “Nova” Lei de Drogas – no sistema de justiça criminal na cidade de São Paulo, tendo como pano de fundo o fenômeno da intensificação do encarceramento por tráfico de drogas no país após o advento da mesma lei no ano de 2006. São apresentados dados sobre prisões por drogas no Brasil e, em seguida, utiliza-se um modelo de série temporal interrompida [interrupted time series designs] em conjunto com um modelo de regressão binária logística com dados relativos à cidade de São Paulo, para indicar como se dá a atual administração estatal das drogas e como se desenvolvem práticas no interior do sistema de justiça criminal que privilegiam a pena de prisão, mesmo depois do suposto fim desta para o usuário de drogas, com a aprovação da lei de 2006.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Marcelo da Silveira Campos, Universidade Federal da Grande Dourados

    Professor adjunto da Universidade Federal da Grande Dourados e pesquisador do projeto temático da Fapesp intitulado “A gestão do conflito na produção da cidade contemporânea: a experiência paulista”, coordenado por Vera da Silva Telles.

  • Marcos César Alvarez, Universidade de São Paulo. Departamento de Sociologia

    Professor livre-docente no Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo, membro do Núcleo de Estudos da Violência e pesquisador do projeto temático da Fapesp intitulado “A gestão do conflito na produção da cidade contemporânea: a experiência paulista”, coordenado por Vera da Silva Telles.

Referências

Adorno, Sérgio & Pasinato, Wânia. (2007), “A justiça no tempo, o tempo da justiça”. Tempo Social, 2 (19): 131-155. Disponível em http://www.revistas.usp.br/ts/article/view/12550, consultado em 30/12/2016.

Alvarez, Marcos César. (2002), “A criminologia no Brasil ou como tratar desigualmente os desiguais”. Dados, 45 (4): 677-704.

Angotti, Bruna (2015), “O encarceramento feminino como ampliação da violação de direitos”. Le Monde Diplomatique Brasil. Disponível em http://diplomatique.org.br/o-encarceramento-feminino-como-ampliacao-da-violacao-de-direitos/.

Azevedo, R. G. (2003), Tendências do controle penal na modernidade periférica: as reformas penais no Brasil e na Argentina na última década. Porto Alegre, tese de doutorado em sociologia, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Barbosa, Antônio Rafael. (1998), Um abraço para todos os amigos: algumas considerações sobre o tráfico de drogas. Niterói, eduff.

Bastos, Francisco Inácio P. M. & Bertoni, Neilane (orgs.). (2014), Pesquisa Nacional sobre o uso de crack: quem são os usuários de crack e/ou similares do Brasil? Quantos são nas capitais brasileiras? Rio de Janeiro, icict (Fiocruz/Ministério da Saúde/Ministério da Justiça).

Beauchesne, L. (2006), Les drogues: légalisation et promotion de la santé. Montreal, Bayard.

Boiteux, L. et al. (2009), Tráfico de drogas e Constituição. Brasília, sal-Ministério da Justiça (série Pensando o Direito, 1).

Bourdieu, P. (1984), “Espace social et genèse des ‘classes’”. Actes de la Recherche en Sciences Sociales, 52-53: 3-14.

Campbell, D. T. “Reforms as experiments”. (1969), American Psychologist, 24: 409-429.

Campos, Marcelo da Silveira. (2013), “Drogas e justiça criminal em São Paulo: conversações”. Sistema Penal & Violência (on-line), 5: 121-132.

______. (2015a), Pela metade: as principais implicações da Nova Lei de Drogas no sistema de justiça criminal em São Paulo. 2015. São Paulo, tese de doutorado em sociologia, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

______. (2015b), “Entre doentes e bandidos: a tramitação da lei de drogas (n. 11 343/2006) no Congresso Nacional”. Revista de Estudos Empíricos em Direito, 2: 156-173.

______. (2015c), “Drogas e justiça criminal em São Paulo: uma análise da origem social dos criminalizados por drogas desde 2004 a 2009”. Contemporânea: Revista de Sociologia da ufscar, 5 (1): 167-189.

______. (2016), “A atual política de drogas no Brasil: um copo cheio de prisão”. Le Monde Diplomatique Brasil. Disponível em http://diplomatique.org.br/a-atual-politica-de-drogas-no-brasil-um-copo-cheio-de-prisao/.

______ & Korner, A. (2011), “Segurança e guerra ao terror: um balanço da literatura contemporânea sobre a América Latina após 11 de Setembro”. Revista Mediações, 16 (2): 51-71.

Carlos, J. (2014), Drug policy and human rights in Brazil. Londres, dissertation in msc in Human Rights and Research Methods, University of Essex.

Departamento Penitenciário Nacional – Sistema de Informação Penitenciária – InfoPen. (2014), “Estatística”. Ministério da Justiça. Disponível em www.justica.gov.br/seus-direitos/politica-penal/documentos/infopen_dez14.pdf, consultado em 15/1/2017.

Diário da Câmara dos Deputados. (2004), Sexta-feira, 13 de fevereiro. Diário do Congresso Nacional, pp. 058040-058050. Disponível em http://imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/dcd13fev2004.pdf#page=, consultado em 15/1/2017.

Dubé, R. (2014), “Michel Foucault et les cachots conceptuels de l’incarcération: une évasion cognitive est-elle possible?”. Champ Pénal, xi: 1-25.

______. et al. (orgs.) (2013), Rationalité pénale moderne. Ottawa, Presses de l’Université d’Ottawa, vol. 1.

Fiore, M. (2012), “O lugar do Estado na questão das drogas: o paradigma proibicionista e as alternativas”. Novos Estudos Cebrap, 92: 9-21.

Foucault, M. (1977), Vigiar e punir. Petrópolis, Vozes.

______. (1979), “Sobre a história da sexualidade”. In: ______. Microfísica do poder. Rio de Janeiro, Graal, pp. 243-276.

______. (1996), A verdade e as formas jurídicas. Rio de Janeiro, nau.

______. (2006), “Gerir os ilegalismos. Entrevista a Roger Pol-Droit gravada em janeiro de 1975”. In: Michel Foucault: entrevistas. Trad. Vera Portocarrero e Gilda Gomes Carneiro. Rio de Janeiro, Graal, pp. 41-52.

______. (2013), La société punitive: Cours au Collège de France 1972-197. Paris, ehess/Galimmard/Seuil. Godoi, Rafael. (2015), Fluxos em cadeia: as prisões em São Paulo na virada dos tempos. São Paulo, tese de doutorado em sociologia, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

______. (2016), “Tortura difusa e continuada”. Le Monde Diplomatique Brasil. Disponível em http://diplomatique.org.br/tortura-difusa-e-continuada/.

______ & Mallart, F. (2015), “Vidas matáveis, morte em vida e morte de fato”. Le Monde Diplomatique Brasil. Disponível em http://diplomatique.org.br/vidas-mataveis-morte-em-vida-e-morte-de-fato/.

Greenwald, Glenn. (2009), Drug decriminalization in Portugal: lessons for creating fair and successful drug policies. Washington, dc, Cato Institute.

Grillo, Carolina Christoph; Policarpo, Frederico & Verissimo, Marcos. (2011), “A ‘dura’ e o ‘desenrolo’: efeitos práticos da Nova Lei de Drogas no Rio de Janeiro”. Revista de Sociologia e Política, 19 (40): 135-148.

Grinover, Ada Pellegrini et al. (2002), Juizados especiais criminais. 4. ed. São Paulo, Revista dos Tribunais.

Helpes, S. S. (2014), Vidas em jogo: um estudo sobre mulheres envolvidas com o tráfico de drogas. São Paulo, ibccrim.

Herrera-Vega, Eliana. (2006), Trafic de drogues et capitalisme: un paradoxe contemporain. Paris, L’Harmattan.

Jesus, Maria Gorete Marques de et al. (2011), Prisão provisória e Lei de Drogas: um estudo sobre os flagrantes de tráfico de drogas na cidade de São Paulo. São Paulo, Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo. Disponível em www.nevusp.org/downloads/down254.pdf, consultado em 20/12/2011.

Kant De Lima, R. (1989), “Cultura jurídica e práticas policiais: a tradição inquisitorial”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 10 (4): 65-84.

Kessler, G. & Telles, V. (2010), “Apresentação. Dossiê Ilegalismos na América Latina”. Tempo Social, 22 (2): 9-17.

Kitsuse, J. I. & Cicourel, A. V. (1963), “A note on the use of official statistics”. Social Problems, 11 (2): 131-139.

Lima, Renato Sérgio de & Sinhoretto, Jacqueline. (2011), “Qualidade da democracia e polícias no Brasil”. In: Lima, Renato Sérgio de. Entre palavras e números: violência, democracia e segurança pública no Brasil. São Paulo, Alameda.

Mallart, Fábio. (2016), “As pílulas e a prisão: produção e gestão do sofrimento”. Le Monde Diplomatique Brasil. Disponível em http://diplomatique.org.br/as-pilulas-e-a-prisao-producao-e-gestao-do-sofrimento/.

Martín, María. (2017), “Cerca de 60% das apreensões de maconha no Rio seriam consideradas posse legal em Portugal”. El País. Disponível em http://brasil.elpais.com/brasil/2017/02/14/politica/1487099659_781760.html.

Mendonça, Nalayne. (2006), Penas e alternativas: um estudo sociológico dos processos de agravamento das penas e de despenalização no sistema de criminalização brasileiro (1984-2004).

Rio de Janeiro, tese de doutorado em sociologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Pires, Alvaro P. (1998), “Aspects, traces et parcours de la rationalité pénale moderne”. In: Debuyst, C. et al. Histoire des savoirs sur le crime et la peine. Vol. 2: La rationalité pénale et la naissance de la criminologie, Ottawa, De Boeck Université, pp. 3-52.

______. (2004), “A racionalidade penal moderna, o público e os direitos humanos na modernidade tardia”. Novos Estudos Cebrap, 68: 39-60.

______. (2013), “Posface”. In: Machado, M.; Dubé, R. & Garcia, M. (org.). La rationalité pénale moderne: réflexions théoriques et explorations empiriques. Otawa, Les Presses de l’ Université d’Ottawa, pp. 289-323.

______ & Cauchie, Jean-François. (2001), “Um caso de inovação ‘acidental’ em matéria de penas: a lei brasileira de drogas”. Revista Direito gv, 7 (1): 299-330. Disponível em http://www.openaccessarticles.com/volume/7/1808-2432_Revista_Direito_gv+Rev_direito_gv.

Raupp, Mariana M. (2005), O seleto mundo da justiça: análise de processos penais de tráfico de drogas. São Paulo, dissertação de mestrado em sociologia, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

Ribeiro, Ludmila. (2009), Administração da justiça criminal na cidade do Rio de Janeiro: uma análise dos casos de homicídio. Rio de Janeiro, tese de doutorado em sociologia, Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro.

Robert, Philippe & Faugeron, Claude. (1980), Les forces cachées de la justice ou la crise de la justice pénale. Paris, Le Centurion.

Santos, W. G. (1998), Décadas de espanto e uma apologia democrática. Rio de Janeiro, Rocco.

Silveira, Dartiu Xavier da et al. (2001), “Fatores associados a perfusão cerebral anormal em dependentes de cocaína”. Revista Brasileira de Psiquiatria, 23 (1): 9-14.

______. (2006), “Redução de danos do uso indevido de drogas no contexto da escola promotora de saúde”. Ciênc. Saúde Coletiva, 11 (3): 807-816.

Souza, Guilherme Augusto D. de & Azevedo, Rodrigo Ghiringhelli de. (2015), “Alternativas penais no Brasil após 1984 e seus efeitos: uma análise a partir de discursos sobre crime e punição”. Contemporânea, 5: 69-92.

souza, Jessé. (2003), A construção social da subcidadania: para uma sociologia política da modernidade periférica. Belo Horizonte, Editora da ufmg.

______. (2009), A Ralé Brasileira: quem é e como vive. Belo Horizonte, Editora da ufmg.

Telles, V. da S. (2009), “Ilegalismos urbanos e a cidade”. Novos Estudos Cebrap, 84: 153-173.

______. (2013), “Prospectando a cidade a partir de suas margens: notas inconclusas sobre uma experiência etnográfica”. Contemporânea, 3 (2): 359-373.

Vargas, J. (1999), “Indivíduos sob suspeita: a cor dos acusados do estupro no fluxo da Justiça Criminal”. Dados, 42 (4): 729-760.

______. (2004), Estupro: que justiça? Rio de Janeiro, tese de doutorado em sociologia, Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro.

volcov, K. (2017), A Flor do Ovo: trajetórias e sentidos do uso de drogas lícitas e ilícitas em contextos privados. São Paulo, tese de doutorado em saúde pública, Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.

Wacquant, L. (2007), “Os excluídos da sociedade de consumo”. Análise Social, xlii (185): 987-1003.

Whitford, Andrew B. & Yates, Jeff. (2003), “Policy signals and executive governance: presidential rhetoric in the war on drugs”. Journal of Politics, 65 (4): 995-1012.

Wright Mills, C. (1940), “Situated actions and vocabularies of motive”. American Sociological Review, 5 (6): 904-913.

Zaluar. A. (1994), Drogas e cidadania. São Paulo, Brasiliense.

______. (2004), Integração perversa: pobreza e tráfico de drogas. Rio de Janeiro, fgv.

Downloads

Publicado

2017-08-08

Edição

Seção

Dossiê: Drogas e sociedade em uma perspectiva comparada

Como Citar

Campos, M. da S., & Alvarez, M. C. (2017). Pela metade: implicações do dispositivo médico-criminal da “Nova” Lei de Drogas na cidade de São Paulo. Tempo Social, 29(2), 45-73. https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2017.127567