A passagem e a presença dos Jê Meridionais por São Paulo e Paraná: uma reflexão etno-histórica

Autores

  • Lúcio Tadeu Mota Universidade Estadual de Maringá Bolsista Produtividade da Fundação Araucária PR.

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2448-1750.revmae.2016.137291

Palavras-chave:

Etno-história, Arqueologia, Jê do sul, Relações socioculturais, Fronteiras e populações.

Resumo

A presença de populações de filiação linguística Jê (Kaingang e Xokleng) no sul do Brasil tem sido objeto de reflexão de pesquisadores das diversas áreas do conhecimento. A produção científica sobre elas, que remonta ao final do século XIX, teve continuidade por todo o século XX e ampliou-se no início do século XXI. Estudos linguísticos e antropológicos vinculam os Kaingang e Xokleng aos Jê do Brasil Central devido a permanência de traços linguísticos e culturais. No entanto, entendemos que os Jê do Sul (Kaingang e os Xokleng) não vieram “prontos” do Brasil Central e difundiram aqui no Sul suas “essencialidades”. Histórica e antropologicamente os grupos étnicos não são entidades fechadas, não estão isolados por fronteiras rígidas sem interação com outros grupos, e suas etnicidades não são dadas previamente. Assim, nossa proposição é iniciar uma reflexão sobre esse processo sócio-histórico de ocupação dos territórios do planalto meridional do Brasil pelos Jê do Sul, realçando as relações socioculturais dos Kaingang e Xokleng entre si e com outras populações do entorno. Focalizaremos nossas observações nos territórios das duas margens dos rios Paranapanema/ Itararé e Itapirapuã/Ribeira, por entendermos que as possíveis passagens dos Jê para o sul ocorreram em pontos ao longo desses rios. Procurar-se-á evidenciar, nesses espaços, os marcadores de cultura material e os dados históricos, que nos  apontem os possíveis corredores de transposição dessas populações por São Paulo e Paraná. Utilizaremos a Etno-história como um método interdisciplinar, por entender que ele conjuga dados e procedimentos de várias disciplinas: história, antropologia, arqueologia, linguística, geografia, ecologia, e também porque valoriza as tradições orais e os etno-conhecimentos na construção de explicações sobre o passado das populações indígenas.

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Publicado

2016-12-24

Como Citar

A passagem e a presença dos Jê Meridionais por São Paulo e Paraná: uma reflexão etno-histórica. (2016). Revista Do Museu De Arqueologia E Etnologia, 27, 135-157. https://doi.org/10.11606/issn.2448-1750.revmae.2016.137291